domingo, 5 de junho de 2011

sem lágrimas

05:00 a.m

Ela não conseguia dormir. Recordações à tona em sua cabeça, momentos nostálgicos lhe pegam e lágrimas escorrem pelo seu rosto como se fossem cravos, ardendo seu rosto e deixando cicatrizes. Sentava em sua cama, olhava o nada. Desesperadamente, arrancava da gaveta seu diário onde lá encontravam-se confissões, segredos, sonhos e momentos inesquecíveis. De lá guardava sorrisos, suspiros, amarguras e ódio. Era uma mistura de sentimentos, um ecstasy constante. Pegou seu lápis, já quase sem ponta de tantos rabiscos e rascunhos. Aproveitou-se do momento para esbanjar-lhe o sentimento em um verso de poema, como se fosse uma droga para aliviar-se da dor.

"Vento. Oh! vento, leve minha tristeza para longe.
Do horizonte ao infinito, quero estar livre
Livre do borrão cinza que me cerca, dessa nuvem escura
Que me desperta o ódio e o desprezo.
Oh! Vento. Leve minha tristeza para longe
Seque minhas lágrimas e me mostre o arco íris.
Não mais olhos vermelhos. No more tears."
10:00 a.m

Acordou com o sol expandindo em sua janela. Quarto iluminado, parecia melhor. Acreditava que o vão que deixou na janela, trouxe o vento que tanto pediu. Levou suas amarguras, levou suas tristezas, encaixando no lugar o sorriso que há tempo não mostrava. Devagar se levantou, caminhou cuidadosamente até a janela. Olhava para o horizonte e via um sol laranja, daqueles que ardiam os olhos. Sorria levemente, ia se recompondo aos poucos. Do pó que estava virando, em um passe de mágica sentia que suas peças foram voltando e se colando de parte em parte. Seu diário em cima da cama, aberto no verso que horas antes acabara de fazer. Do pouco que escreveu, acreditou que diferença lhe fez e que o vento lhe visitou dessa vez.