quarta-feira, 27 de maio de 2020

notas de algum eu lírico

o degustar do boldo
eu dialogo com os astros e cosmos
me encontro com os corpos
e junta um só
a sincronia presente
da peripécia do meu gatilho poético
a noite preexiste
na minha natureza incerta
escondo meus poderes através
do mapa do meu corpo
o extraordinário desejo
de desenhá-los
com as pontas dos dedos
na lucidez do desgaste
percorro na sintonia
da fantasia lasciva.
sutilmente, me despido de sagacidade
enxergo meu corpo vivaz e imponente
e observo chamas no meu peito.
o desejo alterno
e a coragem de poucos
ou ?a falta?

colapso.

olhos voltados ao desastre
é durante a madrugada que
meu corpo derrete,
sublime e incontestavelmente
polido e insolúvel.
trago o tom intrínseco
em um trago de erva
a liquidez da Lua constantemente
penetrada na vulva,
meu corpo gelado e úmido
do suor e da saliva
descarrego minhas fantasias
entre dedos e sonhos
é a unica maneira que encontro
de mostrar o que sinto ao mundo
eu faço verso
verticalmente eu verbalizo
o sulfato embargado na garganta
não dissolve o que tem dentro
sobrecarregada,
eu escondo tanto e não demonstro nada
desvio os caminhos do meu mapa
em transparentes labirintos
assimétricos
nem eu entendo.
a realidade do Ser
em outra persona
complexa e mental
na fusão da frágil e sentimental
perco a percepção
e me torno invisível
ninguem me vê
se não eu mesma
como
vim
ao mundo.
vagando entre os meus lirismos
não consigo escolher
com qual sinônimo
eu carrego o meu pseudônimo
a quietude e o consolo
eu sou puramente o deslumbre
daquilo que não há de ter um sentido.

terça-feira, 19 de maio de 2020

chacina

desenrolar
a realidade em poesia
do era uma vez
o conto de fadas
daquele verde e amarelo
mas que destaca
o aquarela do vermelho sangue
de veias dilatadas
do infortúnio desastre
- quem dera se sua vida fosse diferente -
intolerantes armas apontadas
pra cor da sua pele
e classe
todos
os
dias
dias intermináveis,
explico,
o que há de ter fim
se nos perdemos no meio
e nem nos encontramos no começo
divagar o calcanhar em pregos
levitar
ao ponto de se tornar invisível
mas visível aos olhos de quem mira
o antônimo,
a ironia degradante do Estado
dos Palmares ao ode à liberdade
Maria de Jesus e o quarto do despejo
?o que difere?
a isca perfura e transpassa o céu 
a constelação recorrente 
de sonhadores em guerra
carregados de lágrimas que não secam
....
recarregando o fôlego
à seco
à vácuo 
ao buraco.
chegamos a era 
dos ideais ascéticos
a sensibilidade concebida
e personificada no trágico
daquele que vive,
daquele que vê
o efervescente sentimento
que queima e sangra
o que resta se não resistir?






para: Ágatha Félix, Iago César, Jenifer Gomes, João Pedro, Kauã Rozário, Kauê dos Santos, Kauan Peixoto, Kethellen Gomes, Marcos Vinicius, Marielle Franco e todos os outros inocentes assassinados violentamente pelo sistema.

sábado, 16 de maio de 2020

sobre mim?

sinestésica
sintética
a síncope
em
s
í
n
t
e
s
e
na sintonia frequente
da selvageria
à calmaria
os lábios do mistério
que emitem o som do silêncio
me retiro em ressonância.
eu me sinto magnética 
na alma suspirante
o genuíno e próspero sentimento
doce 
acalmado pelo som eloquente
do desalinho cósmico 
eu sou poesia
mesmo que eu tente me descrer
através de táticas infalíveis do não ser
eu disserto em contraponto 
das arestas não encontradas
do meu ponto cego
não há ninguém nesse mundo
que possa me ler
se não eu mesma
insinuante, eu me afogo
no orgânico sentido
de procurar um sentido
desperto quando entendo
que amar é sobre não ter pressa
escaldada sempre em correria
pela primeira vez fadada 
no contraste da leveza,
eu suspiro aliviada.
encapsulada por velas aromáticas
me resguardo na vista linda
do meu interior inacessível
mas que penetra o profundo e,
ironicamente, ultrapassa o físico
a força brutal polida
se torna fluorescente em minha pele pálida
e corada de frio
rios fluindo como o sangue 
correndo em veias
somos metáfora.
eu sou a metáfora
que uso pra traduzir
as minhas poesias...
entorpecentemente instigante,
se você entendesse
talvez não estaria aqui
pra tentar descobrir.