desenrolar
a realidade em poesia
do era uma vez
o conto de fadas
daquele verde e amarelo
mas que destaca
o aquarela do vermelho sangue
de veias dilatadas
do infortúnio desastre
- quem dera se sua vida fosse diferente -
intolerantes armas apontadas
pra cor da sua pele
e classe
todos
os
dias
dias intermináveis,
explico,
o que há de ter fim
se nos perdemos no meio
e nem nos encontramos no começo
divagar o calcanhar em pregos
levitar
ao ponto de se tornar invisível
mas visível aos olhos de quem mira
o antônimo,
a ironia degradante do Estado
dos Palmares ao ode à liberdade
Maria de Jesus e o quarto do despejo
?o que difere?
a isca perfura e transpassa o céu
a constelação recorrente
de sonhadores em guerra
carregados de lágrimas que não secam
....
recarregando o fôlego
à seco
à vácuo
ao buraco.
chegamos a era
dos ideais ascéticos
a sensibilidade concebida
e personificada no trágico
daquele que vive,
daquele que vê
o efervescente sentimento
que queima e sangra
o que resta se não resistir?
para: Ágatha Félix, Iago César, Jenifer Gomes, João Pedro, Kauã Rozário, Kauê dos Santos, Kauan Peixoto, Kethellen Gomes, Marcos Vinicius, Marielle Franco e todos os outros inocentes assassinados violentamente pelo sistema.