quarta-feira, 11 de outubro de 2017

transe

o transe do tempo 
é lento
como uma passagem
longínqua
dispersa
eu não sei quando vou acordar
mas sei que uma hora vou acordar
o transe do tempo
é escuro
melancólico
plutônico 
causa uma energia bem vinda
que transmite o desejo
de continuar
as vezes parece sonho
as vezes pesadelo
mas eu não quero acordar
porque eu vivo
incansavelmente
a nona sinfonia de Beethoven
mais parece-me a centésima
aparenta durar e se transformar
mais nove vezes e mais nove vezes ao quadrado
parece círculos quando
você fuma aquele cigarro fino
entorpecendo o seu pulmão 
de uma destreza que você acredita ter
mas no fundo são fumaças vazias
de medos tardios
de alguém grisalho em saber
que o transe não leva o vento torpe
enraizado na planta de seus pés 
que não permite a sua caminhada
o tempo permanece.
distingue-se aquele que consegue
entender mensagens enigmáticas
em um espelho de luz neon
distingue-se aquele que em meio
a tontura da embriaguez
sabe enxergar entre as paredes
o sinal entregue especialmente 
em baixo de seu nariz
não meros mapas astrais prontos que podem
dizer que tudo está um inferno
sendo que você faz o inferno
o transe te permite flutuar
na sensação daquilo que você 
se permitiu sentir por uma fração de tempo
que passa por suas veias
como fontes energéticas 
o céu é imenso
mas o que tem dentro de mim
pode ser maior ainda
eu não sei 
ninguém sabe
talvez Foucault e a sua história da loucura sirva de inspiração para esse xeque mate
por enquanto eu não sei
o transe é tempo 
longe pareço caminhar em um túnel escuro 
eu pareço caminhar no meio dele
as bordas são frias e não me parecem seguras
tampouco o meio
mas o meio chega em um lugar
e as bordas?
elas têm as paredes que salvam
o meu destino...
...o transe é tempo
saltando de armadilhas
com botas de ferro 
suando quando tento levantar o meu pé para dar um pequeno passo
e olha que eu disse pequeno
o grande ainda está por vir
no meu hipermetrope anseio
de enxergar a saída
do fim do túnel.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

detalhe

icônica
tuas curvas hidropônicas
que meus dedos deslizam
como um campo vazio
regado à natureza instância
da obra clara da malemolência 
do corpo dissimulado
entre as cortinas do quarto
ameaçando se mostrar
entre risos e sorrisos
e do vento rubro da correnteza
de ar que percorre
eu suspiro alto a fim que escute
e que me sinta vomitando
meu interior naquele momento
único
entre as cortinas
a vertigem do te ver e não te ver
ver teus cabelos longos esvoaçando 
destilando um perfume sereno marcante
que contrasta com o cheiro da tua pele
e produz uma abundância delicadeza no ar
que para mim parece durar uma eternidade
mas que na dicotomia do universo
as estrelas se iluminam mais rápido
querendo te acompanhar
do movimento dos teus quadris 
reparo na linda sombra que se forma
no chão 
cada partícula do momento
eu resgato na magnitude da feição
......do seu olhar
do doce sorriso de bochecha corada
que vejo rapidamente e logo se perde
nas longas cortinas brancas tipo fada
tu se configuras como uma só
o pano demarca tuas curvas
fazendo-me acreditar
que estou próximo da perfeição.


segunda-feira, 29 de maio de 2017

nanda

nanda
branda
com tuas nuances brancas
que agora paira nas nuvens
claras
de um céu pintado
como pinturas à óleo
destacando os detalhes
do teu ser
nanda
branda
caminha no brado do
som uníssono 
de um pássaro branco
que carrega em si
teus desejos e sonhos
que agora voam sob
outros mares
outros ares 
mas que voam no
plano do incompreensível 
da tortura da busca da
compreensão 
nanda
combina com fer-
carregado de ferro
de suas origens
nanthjan, nanth
"ousada em querer
atingir a paz"
nanda
branda
brilha uma estrela 
de um céu ofuscado
caminha na luz do
teu ser
no teu cunho
do compreensível 
leve esta rosa
e encontre tua paz


quarta-feira, 24 de maio de 2017

para você, um dia.

quem sabe um dia você saiba
quem sabe um dia você descubra
quem sabe um dia você reconheça 
quem sabe um dia você apareça
quem sabe um dia você entenda
que tudo o que eu queria lhe dar
eram os meus papéis timbrados
escritos por marcas de silêncio
lacrados por muito tempo 
em templos sagrados
disfarçados de minha gaveta 
da qual não abro por nada
quase que um silêncio secreto
de melancolia censurada
por querer calcular qualquer
fração de tempo e de estado
de uma notícia sua
ou uma resposta concreta
temperando o meu corpo
em salvias agridoces
do misto estacado do amargor
com o doce da felicidade
que me remete a um jardim
daquele de O Mundo de Sofia
esperando algo surgir do nada
como um efeito de ayahuasca
e se firmar em minha realidade
não mais pincelada em gris
mas em uma paleta de cores
singelas e vivas
que dão o prazer do sentimento
gratuito 
longe do romance raso
que existe hoje em dia
eu respiro poesia
e é através dela que eu queria
que você soubesse que em quatrocentos poemas
esse foi o que mais me fez chorar
e me debruçar sob forças
dimensionadas de um quarto pequeno
quem sabe um dia através da melodia
e dos cantos das musas
daquelas do Rio Tejo 
e das poesias
daquelas que não te faz se sentir
em uma sombra constante
você me encontre
pra poder contar história 
sob efeito de um contraste
demarcado da raiz do momento perfeito
da sua íris ocular brilhosa
talvez assustada 
com um sorriso embaraçado
ameaçando balbuciar as palavras erradas
pronto!
são tantas coisas...
quem sabe um dia as estrelas sorriem
quem sabe um dia a lua brilhe mais forte
quem sabe um dia nos tornamos imortais
quem sabe um dia termos poderes
quem sabe um dia
quem sabe
um dia
quem sabe

quinta-feira, 23 de março de 2017

dose

dose

lendo meu bukowski
eu entendo
o amor é um cão dos diabos
que não perdoa
e me faz escrever crônicas
loucas de amor
perambulando de madrugada
entre a sala e o quarto
passando a mão na cabeça
ouvindo um som eclético
que ao invés de ajudar
atrapalha
a minha sensatez
me levando ao grunhido
do gato
a escutar com os nuances
a porta enferrujada do vizinho de cima
ou o som do vento na janela
como correnteza de ar
o giz do artista em contato
com o material áspero
e eu entre tais ancenúbios
me descobrindo um fraco
que se enlouquece por tão pouco
lendo meu bukowski
eu descubro que a cada dia
a minha dose diária
não é mais a mesma
e que amanhã eu estarei no
aguardo da minha
loucura eclética
nesse misto de vida mau acabada
ou recém começada
eu apenas preciso dosar
o desfecho
ou iniciar a regulagem do caos
por completo.

sábado, 4 de março de 2017

pelas ruas de sp



poesia.na.rua

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

eu mesma seca

a secura não permite
a transparência do poeta
se o poeta não sente
como ele escreve?
se o artista não se inspira
como ele pinta?
a secura não permite
as rosas desabrocharem
depois de uma guerra
intensa
e interna
a secura é tão persistente
que uma gota d'água resiste
e se torna apenas uma gota
de enfeite
como aquelas rosas de plástico
vendidas para decoração
a secura não permite
a vontade de sentir e de viver
deixa em nuances de cinza
o que costumava ter tons fortes
de magenta

o poeta precisa da inundação do ser
da alma
da energia
da complexidade
da tenacidade
da clareza
do prazer
prazer aquele que mulher sente
quando sente...
quando se permite
quando não se há secura
impossibilitando o gozo da ternura límpida e ousada
quando não existem rosas murchas
em um jardim cheirando à lavanda
a secura...
não permite te conceber a lágrima
porque não sente
não permite te molhar em uma tempestade
tu sai ileso
porque não se sente
não se molha o que já está seco há tanto tempo
pois seca de novo
e de novo
e o molhado que vinha pra plantar
o jardim
secou rápido com o sol disfarçado de calor
aquele calor
que se costuma sentir
quando não se está preso
há uma secura eterna
secura essa que
não te permite
o molhado que tu esperas
vai secar de novo
não te iludas
nem crie expectativa com as chuvas
tão pouco com as tempestades
são passageiras
a secura não permite
e a areia movediça do detalhe
menos ainda

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

o não saber machuca

e você
que me tem e nem sabe
que só sorrir pra mim
que me faz sentir vontade
e você
que me tem da maneira mais linda
mas nem sabe
será que um dia eu vou
poder contemplar do seu carinho
do seu abraço
sentir seu cheiro
combinar seu sorriso com o meu
sabe....
te esperei por tanto tempo
você nem apareceu
só conheci a sua sombra
e seu completo?
procuro todos os dias por ele
eu me perco
me destruo
choro sem saber por que
minhas lágrimas caem e eu
me vejo sem rumo
só querendo encostar no seu rumo

e você
que nem sabe de nada
e você
que nem sabe que eu estou escrevendo agora
e você
que me vê como um contorno embaçado dentre outros que já existem
e você
que precisaria forçar os olhos pra me ver por completo já que me encontrar seria difícil
na grogues dos meus remédios
na mistura da minha insônia
ao ambiente sagrado do meu quarto
eu te escrevo e te personifico
aqui eu posso te imaginar em segredo
sem que ninguém saiba
aqui eu sou livre
minha imaginação permite
tentar te decifrar e conhecer do seu ser

e você
que nem sabe
que da minha ruína
nasce uma poesia discreta
e personificada do seu eu