quem sabe um dia você saiba
quem sabe um dia você descubra
quem sabe um dia você reconheça
quem sabe um dia você apareça
quem sabe um dia você entenda
que tudo o que eu queria lhe dar
eram os meus papéis timbrados
escritos por marcas de silêncio
lacrados por muito tempo
em templos sagrados
disfarçados de minha gaveta
da qual não abro por nada
quase que um silêncio secreto
de melancolia censurada
por querer calcular qualquer
fração de tempo e de estado
de uma notícia sua
ou uma resposta concreta
temperando o meu corpo
em salvias agridoces
do misto estacado do amargor
com o doce da felicidade
que me remete a um jardim
daquele de O Mundo de Sofia
esperando algo surgir do nada
como um efeito de ayahuasca
e se firmar em minha realidade
não mais pincelada em gris
mas em uma paleta de cores
singelas e vivas
que dão o prazer do sentimento
gratuito
longe do romance raso
que existe hoje em dia
eu respiro poesia
e é através dela que eu queria
que você soubesse que em quatrocentos poemas
esse foi o que mais me fez chorar
e me debruçar sob forças
dimensionadas de um quarto pequeno
quem sabe um dia através da melodia
e dos cantos das musas
daquelas do Rio Tejo
e das poesias
daquelas que não te faz se sentir
em uma sombra constante
você me encontre
pra poder contar história
sob efeito de um contraste
demarcado da raiz do momento perfeito
da sua íris ocular brilhosa
talvez assustada
com um sorriso embaraçado
ameaçando balbuciar as palavras erradas
pronto!
são tantas coisas...
quem sabe um dia as estrelas sorriem
quem sabe um dia a lua brilhe mais forte
quem sabe um dia nos tornamos imortais
quem sabe um dia termos poderes
quem sabe um dia
quem sabe
um dia
quem sabe