domingo, 30 de outubro de 2016

eudaimonia

tu quer saber o que eu vejo?
meu quarto oxida 
o ar e o suor 
do meu corpo
com as lágrimas
do meu rosto
entre visões turvas
decisões dilemicas 
de uma vida
acabada no looping eterno
eu vejo no meu quarto
a janela pro paraíso distante
que me acalma
quando penso em ti
me observando de longe
tal qual Bentinho 
observa Capitu
com os olhos oblíquos
dissimulados de uma
perdição magnética 
que de longe
através dos finos traços
eu encontro detalhes
que nebulam
e me fazem sonhar
com neblina
com medo do que está 
por vir ou com o que
não virá
entre letras de musicas
ouvindo uns EP's de Laura Müller
que nos traz a odisséia do
sentimento mais vivo
e prazeroso 
eu recarrego minha energia
entre filosofias romanas da vida
e logo então cito Sêneca
em suas cartas para Lucilio
pra que tu possa ver o que eu vejo:
"que a nossa vida não se projete
para o futuro, mas se concentre 
em si mesma. 
só sente ansiedade pelo futuro
aquele cujo presente é vazio."
tu diz que eu quero abraçar o mundo
eu rebato que prefiro que o mundo me abrace
num longo som de jazz pra que eu
possa gozar da vida com um trompete
de fundo
enquanto acendo um fumo
não medito enquanto o ártico 
não trazer o frio do qual eu preciso
pra ter a certeza do encarar
aquilo que eu mais vivo
é nessa eterna procura
pela eudaimonia
que eu trombei em ti
é nessa eterna fuga
da minha hexis
que eu trombei em ti
acendendo um fumo
pra mim
enquanto eu me perco 
na praia esquizofrênica 
brisando com as ondas de um mar
bravo e edênico
do qual não me traz a fonte que
eu preciso
aquela brisa do ártico 
aquela frieza celsius
temperado com o calor
da oxidação do meu quarto 
em ti me abraço 
e aí a gente deita 
e esquece o mundo lá fora
o mundo atrás dessa minha janela
não existe o paraíso
mas existe a gente
pincelados do tremor
da tempestade de um tsunami
com a delicadeza de uma arte
de Monet em Orsay
tu quer saber o que eu vejo?

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

crônica de uma história inacabada

hoje foi um dia normal para mim, mas algo inusitado aconteceu. lembrei de um fato que me ocorreu num passado bem distante enquanto eu dava um passeio de ônibus pela cidade. como o caminho é longo, sentei-me em um espaço vazio perto da janela e comecei a imaginar a minha vida passando em alguns segundos, tudo o que já me aconteceu e o que não me aconteceu. e então foi aí que me lembrei dela. seria desonesto da minha parte dizer que eu mal lembro dela nos meus dias, mas, no momento em que me encontro, velho e enrugado, com dores nas costas e tosses constantes, a minha vida dá um sentido diferente pras minhas experiências, digamos que, trágicas e, consigo me recordar bem, apenas com um sentimento de que eu vivi algo e em algum momento da minha vida eu iria entrar em um ônibus urbano e me relembrar delas, criar teorias, quem sabe, ou somente lembrar mesmo.
as voltas que a vida dá são engraçadas, mas a única coisa que eu tenho certeza é que as voltas daquele ônibus que peguei foram enormes e eu me entendiei demais nele. enfim, voltemos. estou em casa e resolvi relatar uma parte de minha história para alguém. fosses o escolhido. pois bem, eu não sou um bom narrador, não relato as ideias muito bem, pois tenho uma mente péssima e distorcida de todos os fatos, resultado de muitos medicamentos por anos. mas, ela era linda. como era.
ela partiu e partiu para bem longe, igual como a música de Tim Maia, da qual coloco para tocar em minha vitrola enquanto tento narrar um pouco -se for possível - da beleza dela.
se me permitir, eu preciso acender o meu charuto e me sentar nesta velha poltrona. (...) cá estou eu, que fase. foi há muitos anos trás, eu tinha os meus vinte e poucos (e felizes) anos. conheci-a em um posto de gasolina. não, amigo, me desculpa. eu não quero parecer uma narrativa de Gregório Duvivier, eu sei de todos esses textos e coisas modernas por aí, mas minha alma é de velho. talvez meu relato seja parecido com o dele. e sim, foi em um posto de gasolina. eu estava na estrada, parei para comprar algo para comer e encher o tanque. aproveitei pra comprar uns cigarros também. lá estava ela dentro da loja debruçada no balcão com um shortinho jeans e um óculos escuro também escolhendo um cigarro. pareceu-me que ela estava se importando com marcas, talvez estivesse procurando o mais "light", acho que ela queria manter aquela cinturinha fina. tinha longos cabelos escuros, não era nada demais, porém algo me chamou atenção. então cheguei nela e perguntei se precisava de ajuda, já que o atendente da loja de conveniência estava mais preocupado em ouvir os noticiários da televisão preta e branca do ambiente. logo, ela me abriu um sorriso lindo, disse que queria fumar mas não conhecia as marcas, eu, gentilmente, perguntei se ela queria começar a fumar comigo lá fora para experimentar do meu, se gostasse..... pois bem, fechou a cara. já logo pensei que fiz algo errado, em uma sociedade machista em que vivemos, ainda mais naquela época, temos um jeito meio escroto com as mulheres, mas a diferença é que ela era independente, transbordava rebeldia e juventude. mostrava-se uma mulher irreverente e decidida para aquela época, acho que foi isto que me atraiu logo de cara. diante este parênteses enorme que criei, ela demorou um pouco de responder o meu pedido, mas aceitou. começamos a conversar e me interessei pelas histórias dela e por ela, a sua independência era vista de longe e eu observava com destreza todos os detalhes e gestos. ela se articulava muito bem e conversava comigo sobre qualquer coisa, até que ela mesma teve a atitude impeta de pegar um guardanapo, escrever o telefone e o endereço e disse com os lábios carnudos e molhados, com um batom vermelho aveludado, não muito forte: "te encontro no hotel do km 76, é onde eu estou hospedada.". à princípio eu achei loucura, não acreditei que aquilo pudesse estar acontecendo. mas, ela era tão incrível que até sem jeito acabou me deixando, sua atitude, sua destreza e rebeldia me deixou perplexo, querendo conhecê-la mais e mais. em questões de segundos ela sumiu, tinha um carro velho, mas pareceu um possante de tão rápido que desapareceu. deu uns vinte minutos, saí do posto e continuei viagem, fiquei pensativo. até que decidi ir no hotel em que ela estava hospedada, não é que era verdade? cheguei lá, conversamos, tomamos vinho e lá logo transamos. foi a melhor transa da minha vida, ela me seduzia constantemente, eu só me via naquelas mãos macias dela, preso por completo naquele momento.
passamos a noite inteira transando, rolando um misto de transa e conversa, conversa e transa. até que mantivemos essa relação por um ano aproximadamente, ela costumava vir em casa, eu buscava ela nos lugares, eu almoçava com ela, ela me ligava de madrugada. enfim, me vi apaixonado da forma mais maluca e inusitada que possa ter acontecido. nós tínhamos uma relação boa e transávamos quase todos os dias, fiquei meio maluco de tesão naquela época, me sentia ninfomaníaco. a minha rotina era ela, comer e dormir, transar. não tinha mais o que fazer além disso. perdi o meu emprego, pois comecei a faltar. eu estava completamente louco e cego, eu vivia para ela e fazia as coisas só imaginando a hora que eu fosse vê-la sem roupa. planejávamos casar, ter filhos. queríamos ter um sítio no interior para irmos com as crianças no fim de semana, mas ela deixava claro que não iria fazer o almoço em nenhum dia.
tive as experiências mais loucas com aquela mulher, dei o melhor de mim e tudo o que eu podia. bebíamos, ríamos, íamos no cinema ver os filmes em cartaz, de vez em quando usávamos drogas, discutíamos, transávamos como louco e nos amávamos... pelo menos eu amava. eu tinha uma câmera-filmadora bem antiga da época, eu a gravava dançando para mim, gravava na cama, o nosso sexo, nua, vestida. calma. eu ainda tenho estas fitas!!! vou colocá-las. (...) pronto, olha só. ela era linda. ela dançava desta forma para mim, de vez em quando ela mesma se filmava. tinha o costume de gravar vídeos sem roupa pra mim e me mandava no meu trabalho em um envelope escrito: "urgente!!!" só para me deixar nervoso com medo de alguém pegar. mas aquela situação toda me excitava, aquele medo, aquela ansiedade me deixava ainda mais na mão dela. e vendo essas fitas, eu só sinto vivendo tudo isso de novo, um jovem com tesão pela vida, apaixonado da forma mais louca que possa existir.
enfim, até que chegou o momento que eu não esperava. ela sumiu, ela partiu. e eu não sei até hoje o que aconteceu... tentei procurá-la em todos os lugares, não encontrei. não tinha contato com a família dela, pois era do interior, de uma cidadezinha bem longe e pequena, não os conheci, parou de atender às minhas ligações, fui à casa dela e não tinha mais ninguém. a loja em que ela trabalhava também não estava mais. perguntei para conhecidos, amigos e todos disseram que haviam visto no mesmo dia que eu a vi pela última vez. pois bem, partiu. até hoje não sei onde ela está, o que aconteceu. só sei que me deixou uma lacuna enorme da qual fico impossibilitado de esquecer totalmente... ainda mais quando relembro do fato. tive de frequentar analistas por anos, nada funcionou. me sinto um adolescente de novo querendo fazer tudo mais uma vez da mesma forma. ela me fez sentir vivo, me deu vitalidade. a liberdade do ser dela foi um exemplo pra mim.
não tenho raiva. só tenho curiosidade, como um ser tão belo pôde ter sumido assim... tão bruscamente, um ser tão belo que tinha muito a acrescentar. se eu pudesse ter tido a chance de pelo menos um adeus, um último beijo, uma última transa. ela via a vida de forma diferente e buscou acreditar nestas diferenças, isso é o que é mais cativante. eu sou grato, falando honestamente. eu vivi um amor de perder a cabeça e de inquietação. restaram-me estas fitas das quais eu guardo como tesouros, tipo aqueles quadros mais valiosos e visados em galerias de arte pelo mundo.
ela partiu... mas a imagem dela em mim continua intacta e viva percorrendo em todos os ônibus desta cidade em que eu costumo passear pra pensar na vida. se ela não tivesse sumido aquela época, ela sumiria depois, ela não era mulher de viver apenas uma vida, uma experiência. a irreverência dela continua pelos cantos e pelos ares deste mundo, talvez outras pessoas passaram pelo o que eu passei. porém, acredito que ela enfim encontrou a sua liberdade de ser.
onde quer que esteja, eu me lembro de você, menina.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

ópio

uma vez eu tive uma viagem de ópio
mais ou menos assim, em que eu...
rasgo as folhas de papel
que escrevi pra ti
deito no chão gelado do banheiro
fecho os olhos
e vejo a minha vida passar
como um vídeo de três minutos
daqueles bem mal produzidos
com efeitos do Moviemaker
aqueles processos gradativos
de uma imagem
que vão desaparecendo
e aparecendo
rápido...
como um foguete
e eu vejo a minha vida inteira
neste pequeno descanso insensato
que não é bem um descanso
é apenas um momento de profunda
inconstância e desespero
como se eu tivesse lendo livros de Malatesta
em que me debruço no imaginário
e perduro no revolucionário constante

lembro-me de todas as folhas de papel
rascunhos
notas perdidas feitas pra ti
de todo o sentimento que me entreguei nelas
a minha vontade alem de rasgá-las
é de jogar o conhaque mais potente da minha coleção
encharcá-las de álcool
e nessa imensidão poética
encontrar as palavras voando
no incêndio desgastado do fogo
com aquele cheiro de filosofia de bar
feito com todo delírio
ocasionado em um momento orgástico
desconstruído
em que me doei por inteira

tu, que sempre fosses
o ser mais poético
tu, que sempre mostrasses
o meu lado inabitual 
tu, que as vezes me mostras
o caminho mais fácil
mas de vez em quando o caminho
mais longo e complexo
registrado em todas as cartas
e notas
em que as anotações são frágeis
parecem se esfarelar com 
facilidade
eu, que sempre tento
me deter de males e desgastes
lembro-me que do meu interior
existe o crescimento de um espinho
programado para espetar
quando não houver mais
sentido na vida
quando não houver mais
o que se rebelar

e, eu me rebelo em ti, meu bem
não queria rasgar as folhas de papel
não queria ter dito aquelas coisas
eu apenas queria ser aquele efeito
"fade in" que desaparece e some
no momento certo
programado e configurado
tu não entendes?
tu não observas o que acontece aqui?
estou deitada no chão do banheiro
sentindo o frio gelado nas minhas costas
e gostando da sensação
como se meu corpo entrasse em colapso
do quente e da intensidade do meu ser
com a realidade da frieza e frigidez
das quais eu deveria conhecer

se tu soubesses, meu bem
que nesse pequeno tempo
em que estou aqui deitada
nesse pequeno vídeo mental que
encarei de mim mesma
tu aparecesses nele todo
mas eu queria te alcançar
pra que tu soubesses todo o medo
que eu sinto aqui debaixo
quando fecho os olhos
quando estou sozinha
ou quando vejo que
estas folhas de papéis
já não me selam a paz

neste meu sentido aguçado
eu me vejo rascunhando
mais uma pra ti...
que com certeza
na minha próxima ida ao banheiro
serão rasgadas
a partir do momento em que
eu
fechar
meus
olhos
e descansar em uma eterna viagem
de ópio.



quarta-feira, 24 de agosto de 2016

tatuagem

sábio mesmo é Chico Buarque
quando escreveu que:
"quero ficar no teu corpo
feito tatuagem
que é pra te dar coragem
pra seguir viagem
quando a noite vem"
sim, tão verdadeiramente
eu quero ficar no teu corpo
feito tatuagem
pra que nele eu sinta
toda a tua intensidade
e carregue comigo
o suor de tuas conquistas
me aconchegar
no calor do teu abraço
e sentir o perfume
da tua camiseta
mesmo depois de um dia
cansado
ou
procrastinado
quero ser a tua tatuagem
a marca que fica no teu corpo 
depois da noite inacabável 
de prazeres e gozos
de lençóis de tecidos finos
destacando o contorno
de nossos corpos
em um ambiente quente
escuro
em que a única luz que se há acesa
é a luz do sentimento vivo
concreto
degustado
ousado
de gritos exaustivos 
de uma noite eterna
como as noites intermináveis na Islândia
a diferença é que
o único frio que sentimos
é a distância de nossos corpos
que se acaba quando nos
trazemos perto
perto
é como eu quero estar
feito tatuagem
perto do teu peito
ouvir as batidas do teu coração
sentir tua pele arrepiando
quando a ponta dos meus dedos
tocarem na tua nuca
ou em outra parte do teu corpo
sábio mesmo é Chico Buarque
quando escreveu que:
"quero brincar no teu corpo
feito bailarina"
sim, no teu corpo me sinto
promovendo arte
aproveitando de todo espaço
delicadamente
anestesiadamente
em que em toda essa loucura
psicodélica
eu me sinto como uma tatuagem
eterna
que se destaca
como uma bailarina e uma orquestra de movimentos
corpos
sons
entrelaçados em uma
única proposta de cultuar amor
e nela resultar a arte
e a tatuagem
esse poema
é pra ti

sábado, 13 de agosto de 2016

pedido

pois bem meu bem
eu te pedi tanto
entre lágrimas e súplicas
entre dilemas e certezas
entre planos e 
fatos concretos
eu te pedi tanto
apenas ver o seu sorriso
apenas ver o seu olhar
pois meu bem
vou te contar um segredo
eu não aguento 
um minuto se quer sem ti

deus, se é que existe
há de me trazer aos ventos
um suspiro seu
apenas pra eu sentir
o calor do seu corpo
a maciez do seu cabelo
e da sua pele


eu te pedi tanto
entre impaciência
entre resiliencias falhas
por fim
hei de acabar minhas baterias
entre tantas súplicas
não consegui
te ter meu bem
te ter em meus braços
os planos concretos
onde eles estão
neste abismo
imenso de solidão
que sinto neste momento
entre lágrimas
que insistem em cair
no meio de tanto vazio
me sinto perdida em uma
floresta
no escuro
em que cada canto
no ensaio da minha cegueira
eu tento encontrar
e no raio infravermelho
da escuridão
meu coração palpita
querendo te encontrar
nem que for apenas
um resquício seu
eu só quero te encontrar 

meu bem
quem dera tudo o que
planejamos desse certo
quem dera tu acatasses meu pedido
e apenas uma vez
esquecesse da razão
da racionalidade 
só queria que me visses
como mulher
ser humano
que ama
da forma mais intensa
a sabedoria se constrói
entre acertos e erros
mas o amor é o que resta
e o que prevalece

deus, não quero que haja
justiceiros
quem és tu, meu bem, pra ditar
se sem ti eu hei de me encaminhar
tu não sabes o pecado
que é não amar alguém
quando se tem amor

a minha vida inteira
toda inteira
eu me perdi nesta imensa
floresta fria
nebulosa
escura
que me enche de medo
nela encontrei paz
mas já era de se esperar
que o que é bom
nós deixamos escapar
entre nossos dedos
como um sopro....
.....desaparece
o que resta do meu ser
sao minhas pernas trêmulas
neste frio da floresta
tento me aquecer no vazio
que me encontro
tento me abraçar pra me 
proteger da ventania
tento encontrar um lugar
que posso me sentir segura
e dizer sem medo que é meu
mas o medo prevalece
ninguém aparece
só ouço o barulho do vento
ecoando
como uma voz suave e leve
que próximo aos meus ouvidos diz:
tu eis de viver sozinha
nessa imensa escuridão
que te persegues
e então eu fecho os olhos
ainda tentando me proteger
do vento
e te faço mentalmente
o último pedido, meu bem
entre lágrimas e súplicas
entre certezas e certezas
em que parte dessa floresta
tu eis de estar? 
por que não viesses?
mesmo depois de tantos
....pedidos
por que não viesses?
tu não me amas mais?
...que o vento ecoe
todos os meus sentimentos
através deste poema 





quinta-feira, 11 de agosto de 2016

dialogo

.complexo.

hoje é dia de me olhar no espelho. e eu me vejo menina, me sinto menina em muitas coisas da minha vida... mas sou mulher. mulher? que mulher? sim! eu sou mulher, eu tenho qualidade como qualquer outra pessoa, eu posso sim passar batom vermelho e me sentir bonita essa noite, eu posso sim me equilibrar em um salto alto e me sentir mulher, inalcançável, modesta, sensual, apenas.. mulher. você? se sentir assim? quem você quer enganar: olha pra você.
mas, eu olhei! e, quer saber, eu acho que não me sinto mais tão menina.
só que a verdade é: você é menina, você não sabe lidar com nada, você chora fácil, você sente medo fácil, que adulta quer ser você?
ei, eu tento controlar as minhas coisas, eu tento ser normal, eu tento ser menos preocupada, eu tento não pensar no meu futuro, por que você não me dá um tempo?
porque você não se dá um tempo. olha pro espelho de novo, lá você vai ver as suas verdadeiras faces. como você não viu ainda? seu rosto é tão branquinho, dá pra ver até as suas veias, o que você quer esconder, menina?
eu não sou menina! eu sou mulher, eu posso fazer qualquer coisa, por que você não acredita em mim? calma aí, esse diálogo está confuso, por que você não sai desse casulo e mostra as caras já que você pode fazer qualquer coisa?
mas que saco! eu não quero te provar nada, eu só vim me olhar no espelho, o meu nariz me incomoda, mas, eu gosto do meu cabelo... quer dizer, não gosto tanto, ele tem muitos fios brancos, também não gosto da combinação da minha boca com o meu olhar... meu corpo, ah, ele é o pior, não consigo ficar satisfeita.
tá vendo, você é menina, que mulher se preocupa com estas coisas? vê se cresce, e, quer a verdade? eu concordo com tudo isso, seria melhor você parar de se olhar no espelho, assim você se machuca menos.
você tem razão, eu tento de todas as formas me sentir uma melhor pessoa, mas, sou menina... uma menina com muitos medos, uma menina que não faz nada certo e tropeça em tudo o que há de certo em sua vida, no final... perde tudo.
pois é! finalmente você entendeu o que eu estava querendo dizer, além de ser bem mais ou menos, não entende nada, mas é uma tola mesmo... por isso que nada dá certo na sua vida.
posso te fazer uma pergunta? o que queria dizer Buda quando citou: "nem teus piores inimigos podem fazer tanto dano como teus próprios pensamentos."?
mentira que você leva sério isso? realmente não tem como manter um diálogo com você, olha bem pra você... se olha no espelho.
hum, olhei. o que foi dessa vez?
olha bem de perto, olha pra você mesmo, tenta encontrar a sua alma... o que você vê, sua tola? eu vejo... não sei, não encontro nada! só vejo uma pessoa se olhando no espelho sem saber o real motivo. pois então, por que tá querendo saber de Buda? vai se encontrar, menina! ele era apenas um filósofo falando coisas e mais coisas como qualquer outro.
acho que você tem razão de novo.
viu.
vi.
eu sempre tenho.
tem.
tenho.
tem.
tenho.
tem.
você me tem.
tenho.
você me domina
domino.
você me odeia.
odeio.
você não me quer bem.
não te quero bem.
por que tá aqui ainda?
por que tá conversando comigo ainda?
você não tem mais o que fazer?
tenho. encher a sua cabeça de muita coisa ruim.
por que?
porque é o que você merece.
por que eu mereço?
porque você é menina, tem medo, é um alvo fácil, coitadinha. vai chorar pra mãe?
(..........)
por que ficou calada?
ei, volta aqui. por que ficou calada?
(....................................................................)


hoje é dia de me olhar no espelho. eu me vejo menina, me sinto menina em muitas coisas da minha vida... mas sou mulher. eu sei que sou, nada me impede saber disso.
hoje é dia de me envenenar me olhando no espelho.
porra, aleluia! tava na hora, uma idiota a menos no mundo.
(.......................)
por que está me ignorando?
(......................)
você está cansada?
eu estou.
por que não tenta descansar um pouco?
porque você não deixa. nem ao menos deixa eu me envenenar em paz.
você não vai ficar em paz até porque você já esta envenenada, mocinha.
eu vou sair. tenho um encontro, depois eu me enveneno, você me cansou.
você vai sair assim? tem certeza? eu não aconselharia! você nem ao menos foi convidada pra festa, vão te achar horrível com esta roupa... olha esse seu cabelo, que coisa feia! e esse batom? onde que você quer ir assim?
mas, eu não achei que está ruim. acho que ninguém pensaria nada disso!
claro que pensariam. você sabe como são as pessoas... falsas, mentirosas, elas só sabem mentir pra você, se fazem de amigos, dizem que você tá linda mas não é bem assim.
tá bom, só que eu não fiz nada pra nenhuma delas, não tem porque elas pensarem isso. eu só quero ir à um encontro me divertir um pouco, eu posso???
não!! não pode. porque não vai dar certo este encontro, ele vai te detestar, você é chata e tem uma conversa que dá sono, você não é engraçada e não tem nada de atraente, o que você quer fazer lá? passar vergonha? levar um toco?
posso me permitir? levar um toco faz parte da vida. só deixa.
ha-ha-ha-ha-ha... como assim faz parte da vida? levar um toco é horrível, é alguém não te querendo, você tem noção disso?
eu não quero ter essa noção e nem sentir essa sensação, mas, eu só quero me divertir. divertir? pra que? sua cama é bem mais confortável e ela não vai te achar feia e nem cansativa.
cansativa é você.
eu? é você.
você.
você.
você.
eu?
(....................)
ah não, vai me ignorar de novo?
(..............)
bom, pelo menos decidiu ficar em casa, já é um bom começo, mas, e o veneno? tá de pé ainda?


.complexo.



domingo, 24 de julho de 2016





[excertos de mensagens tiradas de alguém para outro alguém]
ii.


***





faz tempo que não nos falamos, mas, eu queria deixar claro o motivo de eu ter ido embora. eu falhei comigo mesma e, de repente, me vi perdida de tudo e de todos, inclusive de mim.
eu registrei toda minha luta diária em páginas de um diário, pensar demais é doloroso e nos faz viver em uma eterna prisão em que a sua pena é a de: morte. eu te amei mais que tudo e gostaria de ter feito mais, mas, a situação me fez desistir, a minha mente me colocou em uma armadilha da qual eu não fui capaz de escapar. o meu sentimento é louco, intenso, tenso. é como se eu tivesse toda a minha vida por um triz nas pontas dos meus dedos pronta para escapar. eu tinha medo, medo de acreditar nas coisas, medo do bom, medo do que pra mim era improvável, medo de: aquilo não ser real.
pois bem. logo tratei de me curvar diante minha mente, pois sou apenas sua súdita que acata ordens e mais ordens. por trás do medo, eu conseguia ver uma felicidade, mas teria de resgatar bem lá no fundo... difícil.
o suor do meu medo de deixar tudo escapar pelo vão entre meus dedos era tão presente que parecia que qualquer gotícula que caísse no chão já se ouvia de longe indicando que tudo está perdido. se eu pudesse dizer algo do meu eu de hoje pro meu eu de antes, seria: "calma, meu bem, não tem nada de errado, não precisa viver sempre por um fio, desse jeito vai perder o amor da sua vida". mas quem disse que meu eu de antes ouviria? a teimosia é uma sabedoria da qual um ser pensante-intenso ainda não adquiriu. eu peço que(........)

quisera eu

quisera eu

eis uma citação de carlos drummond de andrade:
há um certo gosto em pensar sozinho
é ato individual, como nascer e morrer 
quisera eu ter gosto ao ato de pensar
ato este que me toma a consciência
ato este que me falha à lucidez;
quisera eu parar de pensar nas
mínimas;
mícroscópicas;
coisas que me tiram a concentração
me desgastam por inteira
desnutre meu cérebro de
pensamentos vazios
captados por uma onda magnética
intensa
da qual você não escapa
e se torna prisioneiro dela
como se fosse uma droga
a droga de efeito mais devastador
que um químico pôde ter inventado;

quisera eu ter o poder da química
pra inventar uma outra droga
que aliviasse o meu ato falho de pensar;
quisera eu pensar sozinha mas pensar
com consciência
com clareza
sem paranoias e inconstâncias;
quisera eu gostar do ato individual
e não fugir de mim mesma;
quisera eu conseguir fechar às portas
do meu quarto
sem ter medo de. m i m. m e s m a.

quisera eu, nestes momentos de fragilidade
nascer como uma fênix
e dizer: há um certo gosto em pensar sozinho
e, eu tenho este gosto;
quisera eu... logo eu, cheia de sonhos
vontades
teorias
filosofias
revoluções internas
não se ver capaz de colocar em prática;
e me ver desmoronando por inteira
como se fosse um atentado à um
patrimônio exímio cultural.

quisera eu utilizar do ato de pensar
como forma de renascimento e descobrimento;
não como forma de morrer
como eu o faço todos os dias
alguns já me disseram:
pensar demais nos faz desistirmos
quisera eu conseguir não desistir
e seguir em frente;
quisera eu que a felicidade para mim
não fosse um desafio
e sim um brinde
de algo que
eu tenho o direito;
quisera eu que o efeito de felicidade
não seja um estranhamento de que
"tem algo de errado acontecendo,
isso não pode ser";
quisera eu acreditar
quisera eu achar que não preciso
desistir
que nada me impede
e que não há nada de errado;
quisera eu achar que desistir
é um ato individual falho
de uma mente cansada
mas que nada que uma boa
barra de chocolate e um filme
não resolvam;
é, por ora
e por depois?
quisera eu
o depois nunca estar
no meu ato extremo de pensar.

sexta-feira, 22 de julho de 2016



[excertos de mensagens tiradas de alguém para outro alguém]
i.
                                                    

***



bom dia, tudo bem? eu queria dizer que eu acho melhor nós não nos encontrarmos hoje, eu não sei, não acordei bem... sabe, não gostei da conversa com a sua amiga, são coisas que estão me incomodando com facilidade, quem sabe amanhã nós tomamos um café ali na avenida principal e depois encaramos um cinema, né? mas. hoje. não.
hoje não estou acreditando em você, hoje não gostaria de te ver, hoje estou me sentindo horrível e pra baixo, não é um dia normal e eu queria saber o por quê disso e das minhas noites mal dormidas das quais penso muito nestas suas conversas adjacentes.
me responde quando puder, sei que o seu trabalho te consome pelas manhãs, gostaria de saber a sua opinião, beijo.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

hipnose

hipnose 

e eu apenas choro
choro 
e fico triste 
eu sou a poeta que não tem
mais forças pra escrever poemas
por que eles deveriam sair
bonitos
esse aqui não vai sair

a janela do meu quarto
bate com o vento lá fora
me deixando com medo de
dormir no escuro e sozinha
então
pego meu papel e escrevo
no momento estou
inquieta
com medo
angustiada
como eu queria ser uma pessoa
melhor
tantas coisas que eu queria
eu queria ser hipnotizada
pra que na ilusão do meu subconsciente
eu consiga te encontrar
e nesse encontro
eu consiga falar tudo o que
eu sinto
da forma mais exagerada que existe
da forma mais agoniada que existe
porque é como eu me encontro agora
agoniada
te quero mesmo que por uma hipnose
quero te abraçar mesmo que por
um transe
eu quero apenas isso
te fazer feliz
da forma mais sincera que possa existir

eu não vou pedir desculpas
pelo meu jeito louco de ser
eu te peço desculpas pelas
formas loucas do meu ser
que se atrapalha 
e escorrega
eu não escolhi te amar
mas escolhi te amar
por que você é a pessoa certa
por que é em você que me encontro
nos transes perdidos do meu
subconsciente
meu consciente te quer
mais do que tudo
e moveria céus por isso

deixo a poesia de lado
pra estampar nestes versos
os meus sentimentos reais
pois eu também preciso me liberar de alguma forma
escrever acalma o coração inquieto
a inquietação não nos permite
nos distrair 
nem dormir 
cá estou eu querendo ser hipnotizada
com insônia
faz sentido? talvez

esse texto é só um reflexo do
meu atual momento solitário
com medo
do vento batendo forte da janela
e dos gritos na rua
meu coração tá acelerado
e em um passe de mágica
perco a visão 
pois ela está encharcada 
de sentimentos que querem ser
preenchidos
em meio a isso
enxugo-as
deito na minha cama
num ambiente gelado de frio
pego meus três cobertores
e me cubro, penso com meu
coração apertado e os olhos
marejados ainda:

eu só queria te dizer que eu te amo
mais uma vez
sem que fosse a última

terça-feira, 17 de maio de 2016

queria que soubesse

queria que soubesse

falas e demonstrações
não são meu forte
talvez as palavras sejam
mas elas me faltam
quando o assunto é você
as palavras fogem como
um pássaro atrás da caça 
como um vento rebelde
em um dia chuvoso de
um domingo tedioso

as palavras
às vezes elas se tornam tão pequenas
pra imensidão do meu sentimento
como posso traduzi-lo
se um: eu te amo
já se torna algo saturado?
eu quero dizer mais que isso
mas não encontro no dicionário
como que vou transformar
este poema
pra te tocar 
pra te mostrar
que meu amor está além de um
simples eu te amo
meu coração se agoniza 
ele me diz sempre:
"olha, tá na hora de falar as coisas
eu não aguento mais"
e eu respondo:
"mas meus sentimentos são tão fortes
que as palavras são pequenas!"
alguém no mundo sofre
com o mesmo problema?
o mesmo problema que é
amar intensamente
exacerbadamente 
transbordamente
internamente e
inteiramente
amar em todos os sentidos
formas e traços

sabe
meu coração tenta traduzir tanto
o que minha mente procura
bloquear
minha mente é a nivelação
minha mente é o túnel escuro
pro dia claro
ou seja
tenho que passar por ele uma hora
cadê a resiliência?
céus! eu procuro pela minha resiliência
o tempo todo
todo o tempo

queria que soubesse
que a pessoa que escreve esse poema
tem no coração muitas coisas boas
a pessoa que escreve 
tem os melhores sentimentos
a oferecer
as melhores intenções do mundo
queria que soubesse
que se tem alguém no mundo
que te ama
esse alguém sou eu
se tem alguém no mundo
que procuram palavras
pra te dizer mas as perdem
no meio de tanto amor
esse alguém sou eu
queria que soubesse que
por mais que eu caia sobre
meus próprios erros e dificilmente
me levanto
eu os assumo mas faço porque
te amo


e quem ama comete erros
a perfeição não existe
e muito menos existiria 
neste pequeno poema
eu amo
estar nessa loucura 
eu amo estar bagunçada
mas amo mais ainda
é vivenciar essa loucura
com você
unicamente você

queria que soubesse
que é só você que me importa
queria que soubesse
que é só a sua roupa que quero tirar
queria que soubesse
que é só com você que eu
discutiria teorias
as teorias mais loucas que já existiram
queria que soubesse tanta coisa
eu poderia passar dias escrevendo
e reinventando o seu poema
mas me atento ao que vale ao momento
queria que soubesse que
a pessoa que escreve este texto
o faz pensando em você
você já parou pra pensar
o quanto o seu ser inspira?
você me transborda 
e me ativa
como o fósforo acendendo o fogo
dá aquele calor
é aquele contraste maravilhoso 
da chama do fogo misturado com o azul 
é exatamente como eu me sinto
com esse sentimento que arde
meu peito querendo explodir
palavras
mas que no final acabam continuando lá quietas em algum lugar que o dicionario não rotulou ainda
e que meu poema tenta encontrar
e que a pessoa que escreve este poema
tenta encontrar
por meio de suspiros e lágrimas 
por ora, acho que só me resta o eu te amo
e é isso que eu queria que soubesse
que eu
te amo

quinta-feira, 28 de abril de 2016

intrigante

olha eu aqui de novo
com meu papel manchado de vinho
do vinho amargo adormecido
da ressaca sombria e solitária
de ontem

como eu queria que você
estivesse aqui
compartilhando esse momento
comigo
você não sabe, não é mesmo?
mas eu te conto um segredo
agora
um segredo que por minha boca
pode demorar a sair
mas pela minha arte
torna-se inevitável
afinal
você é a razão disso tudo
da minha ressaca
do meu vinho
este papel escrito e manchado
é só para registrar
que mesmo eu nem te tendo
perto de mim
eu já sinto a sua falta

mesmo eu nem.....
mesmo eu nem.....
não consigo pensar em mais nada
pois eu já sinto a sua falta
e você não sabe
o quanto faz bem pra mim
quem sabe
meu bem
um dia você decifre toda a verdade
por trás do meu sorriso tênue

olha eu aqui de novo
este pequeno texto
é para tentar entender
como um ser pode me intrigar
instigar
em tão pouco tempo
eu nunca pensei
eu nunca imaginei
deve ser por isso que

eu estou aqui de novo
com o meu caderno manchado
do vinho que eu derramei
guardando um segredo
diante destes versos
mal ditos
que nem eu mesmo sei
se é segredo mais
pois já não sei mais disfarçar

segunda-feira, 18 de abril de 2016

o teu eu

o teu eu
está comigo?
o teu eu
me quer de verdade?
o teu eu
teu interior
o que ele te propõe?
qual é o desejo dele?

mas, me diz
eu quero saber do teu eu
da tua alma
da tua essência
não quero saber de entranhas
de algo falado de invenções
criadas na nossa mente
apenas por falar
apenas por ter o prazer
de ver a outra pessoa
falar o que tu queres ouvir.

o teu eu
eu tenho dúvidas do teu eu
eu não sei o que queres.
ao mesmo tempo que estás comigo
estás com ela.
o teu eu
cozinha quantas ao mesmo tempo?
eu não estaria escrevendo
se não estivesse doendo
e se não estivesse doendo
não seria o meu eu
pois o meu eu é intenso
e sofre de natureza por coisas
banais
que seres humanos não sofrem
mas que o meu eu teima em querer sofrer

esta dor me faz pegar o lápis, o diário
me faz querer que alguém me ouça
e me explique o que está acontecendo
já que o teu eu é difícil de decifrar
o meu eu implora por verdades
tais quais não sei até onde vão
a veracidade delas
meias verdades não existem
meias mentiras sim
mas eu quero o teu eu por completo
pelas completas verdades
não te quero pela metade
o meu eu não aguenta
não se sentir completo
o meu eu não aguenta
não saber de verdades

eu não estaria escrevendo se eu não tivesse dúvidas
dúvidas que teu eu arranca de mim no mesmo segundo
mas fazem elas voltarem no outro dia,
eu não entendo o teu eu.
às vezes eu tenho medo do teu eu.
às vezes eu tenho medo do teu eu com a intensidade do meu eu.
eu não quero sentir dúvidas
eu não quero sentir medos
eu quero ter o meu eu
no teu eu
na forma mais bela
e intensa
que possa existir.

terça-feira, 5 de abril de 2016

sentimento louco

sentimento louco
louco este
que me deixou louca
perdida
mesmo que eu tenha
me encontrado por dentro
e me encontrado em ti

sentimento este
que me sufoca
me instiga
me perturba
me causa insônia
me faz escrever poemas
alucinados e sem sentido
às quatro da manhã
enquanto eu poderia estar
dormindo e sonhando
ou
apenas
dormindo

sentimento este
tão devastador que
me guia
me acalma
me enfurece
me entristece
me excita
me devora

sentimento este
que eu nunca senti antes
eu me olho no espelho
e não me reconheço mais
me perdi nesta loucura de
sentimento
que eu nem pedi
ele apareceu
sem dar licença
sentou, pediu café, fumou um cigarro na varanda
se levantou como se ousasse ir
embora
mas persistiu nos passos
largos e firmes em continuar
mais tempo ali na sala

sala esta que já foi pisada
por mais gente
que já foi empoeirada e trancada
como se fosse um cortiço abandonado
mas que ele entrou
e com seus passos largos e firmes
sorrateiros
permaneceu sem hesitar
sem nem olhar para trás
sem nem buscar respostas para as perguntas
apenas ficou parado ali
como uma estátua da arte mais
bonita da cidade
a estátua mais rica e instigante
que com aquele ar duvidoso denotava
que sabia o que estava fazendo ali
e sabia o que queria
eis que eu ouço da boca um: "eu não
vou sair, estou em casa."

este sentimento louco que
faz você pegar as malas
e colocar para dentro
faz você trancar a porta e esconder as chaves
dar um beijo intenso
sentir o sangue correr ferozmente nas veias
e dizer: "sim, aqui eu te encontrei. aqui é o nosso lugar."

ou apenas não dizer nada.
sentimento louco este
este que te faz perder a fala
te faz não saber ou saber até demais.

domingo, 6 de março de 2016

fases como a lua

tenho fases como a lua
tenho fases
tenho medos
fraquezas
desencontros
desentendimentos
tenho faces como a lua

eu te pego
e me entrego
como um ser desmembrado
em outra atmosfera
num outro sistema
solar
perdido
leve
apenas deixando teu corpo
ser guiado pela sensível gravidade
pra perdição
ou pra perdição
o bom de usar essa palavra
é que ela também tem fases
como a lua

eu quero poder
enxergar
além de horizontes
de verticais
que se inclinam
formando diagonais
que as vezes se perdem
ao teu encontro
eu procuro em teu olhar
mesmo que de longe
a tua igualdade
a tua vontade
o teu sentido
o teu... sistema

eu quero acreditar
pois acreditar em algo
nos move
nos leva adiante
enfim, crescemos

eis os pensadores
que fizeram a proeza
de pensar por mim
já dizia os versos clichês
de Caio Fernando Abreu
"sou tão inseguro, meu bem
não faz assim comigo não,
como dizia Carmen Miranda"

não faz assim comigo não
tens asas para voar
mas prende-se aqui
por um instante
para eu te mostrar
como um ser pode
se desdobrar
por amor
como alguém
que faz dobraduras
e artes com papéis
com papéis fortes
rígidos
pode fazer algo
tão difícil
se tornar bonito
e admirável

não te entendo as vezes
me queres mas queres
quantas ao mesmo tempo?
quantas?
será que....
se tu pudesses entrar na minha mente
entenderia o que eu penso
talvez me taxasses de louca
e me mandarias para um hospício
mas
talvez eu seja a louca

ou será que....?
eu não entendo
o que acontece em minha volta?
tenho fases como a lua
nelas eu me perco
me encontro
vertigem sem fim
medo sem fim
pensamento sem fim

eu busco
as vezes só procuro respostas contrárias
para o que eu encontro
meu bem as vezes tu pareces contraditório
e eu não sei se devo pisar ali
ou aqui
tem algo que me prende
como uma flor
espinhenta
tentando conquistar
o ser mais belo
que a encontrou
mas não consegue pegá-la
pois os espinhos impossibilitam
o ser mais belo de agarrá-la firmemente com os dedos
e sentir teu cheiro
tua essência
sentir a pureza
que uma rosa púrpura
pode trazer

tenho fases como a lua
neste texto grande
já me decidi e não me decidi
tu realmente sentes o que eu sinto?
tu estás vendo o que eu estou vendo?
ou aquela estrela brilha com mais
intensidade para mim
que chega a te ofuscar?
eu não sei
tem atitudes tuas que eu não entendo
não compreendo
são contrárias
ou eu que........
tenho fases como a lua

meu bem
quero que me digas
tu consegues olhar pro céu
e encarar todas as fases da lua?


sábado, 20 de fevereiro de 2016

escrever pra não enlouquecer

são seis horas da manhã
de um dia de semana
que eu nem sei qual é
pois eu me perco tanto
nas ideias
nos desejos
que me perco de mim
do tempo
da realidade

a pequena claridade da janela
já denuncia que amanheceu
e eu reviro
a minha cama
impaciente
e vejo
que tu não estás nela
eu queria que tu pudesses olhar
para o que eu estou olhando agora

o meu quarto está um clima
tão bom
que bom seria pouco
pra explicitar o que
eu realmente quero
pena que nele só falta
a tua presença
a escuridão toma conta
mas termina quando eu busco
a claridade desviando meus olhos
na janela
e vejo as cortinas um pouco transparentes
ensaiando breves movimentos
como folhas em coreografia com o
pequeno vento
que as assopram
porém não saem do lugar
vejo estas cortinas tampando a pouca
luz que tenta
invadir o meu quarto

enquanto isso lá fora
tem vidas
pessoas
carros
barulhos
por que eles se tornam tão mais
intensos
quando nós nos deparamos sendo
intensos?
ouço cada barulho lá fora
com genuinidade
desde a gota da chuva que ameaça vir
até a buzina na esquina das
três quadras daqui
tudo isso porque........
tu não estás.....
aqui
a intensidade se acentua da forma
que os cruéis detalhes se exaltam
quando temos as sensações mais
inibidas e oprimidas

sempre nos tornamos
mais veementes
quando nos sentimos
suprimidos
pelo universo

tu tens que sentir isso
que eu estou sentido
se eu pudesse registrar a fidelidade
de tudo isso
as fotos
e as minhas escritas
seriam inúteis
pela grandeza da imensidão do vazio
e da vontade surreal de te ter aqui.