domingo, 30 de outubro de 2016

eudaimonia

tu quer saber o que eu vejo?
meu quarto oxida 
o ar e o suor 
do meu corpo
com as lágrimas
do meu rosto
entre visões turvas
decisões dilemicas 
de uma vida
acabada no looping eterno
eu vejo no meu quarto
a janela pro paraíso distante
que me acalma
quando penso em ti
me observando de longe
tal qual Bentinho 
observa Capitu
com os olhos oblíquos
dissimulados de uma
perdição magnética 
que de longe
através dos finos traços
eu encontro detalhes
que nebulam
e me fazem sonhar
com neblina
com medo do que está 
por vir ou com o que
não virá
entre letras de musicas
ouvindo uns EP's de Laura Müller
que nos traz a odisséia do
sentimento mais vivo
e prazeroso 
eu recarrego minha energia
entre filosofias romanas da vida
e logo então cito Sêneca
em suas cartas para Lucilio
pra que tu possa ver o que eu vejo:
"que a nossa vida não se projete
para o futuro, mas se concentre 
em si mesma. 
só sente ansiedade pelo futuro
aquele cujo presente é vazio."
tu diz que eu quero abraçar o mundo
eu rebato que prefiro que o mundo me abrace
num longo som de jazz pra que eu
possa gozar da vida com um trompete
de fundo
enquanto acendo um fumo
não medito enquanto o ártico 
não trazer o frio do qual eu preciso
pra ter a certeza do encarar
aquilo que eu mais vivo
é nessa eterna procura
pela eudaimonia
que eu trombei em ti
é nessa eterna fuga
da minha hexis
que eu trombei em ti
acendendo um fumo
pra mim
enquanto eu me perco 
na praia esquizofrênica 
brisando com as ondas de um mar
bravo e edênico
do qual não me traz a fonte que
eu preciso
aquela brisa do ártico 
aquela frieza celsius
temperado com o calor
da oxidação do meu quarto 
em ti me abraço 
e aí a gente deita 
e esquece o mundo lá fora
o mundo atrás dessa minha janela
não existe o paraíso
mas existe a gente
pincelados do tremor
da tempestade de um tsunami
com a delicadeza de uma arte
de Monet em Orsay
tu quer saber o que eu vejo?