eis uma citação de carlos drummond de andrade:
há um certo gosto em pensar sozinho
é ato individual, como nascer e morrerquisera eu ter gosto ao ato de pensar
ato este que me toma a consciência
ato este que me falha à lucidez;
quisera eu parar de pensar nas
mínimas;
mícroscópicas;
coisas que me tiram a concentração
me desgastam por inteira
desnutre meu cérebro de
pensamentos vazios
captados por uma onda magnética
intensa
da qual você não escapa
e se torna prisioneiro dela
como se fosse uma droga
a droga de efeito mais devastador
que um químico pôde ter inventado;
quisera eu ter o poder da química
pra inventar uma outra droga
que aliviasse o meu ato falho de pensar;
quisera eu pensar sozinha mas pensar
com consciência
com clareza
sem paranoias e inconstâncias;
quisera eu gostar do ato individual
e não fugir de mim mesma;
quisera eu conseguir fechar às portas
do meu quarto
sem ter medo de. m i m. m e s m a.
quisera eu, nestes momentos de fragilidade
nascer como uma fênix
e dizer: há um certo gosto em pensar sozinho
e, eu tenho este gosto;
quisera eu... logo eu, cheia de sonhos
vontades
teorias
filosofias
revoluções internas
não se ver capaz de colocar em prática;
e me ver desmoronando por inteira
como se fosse um atentado à um
patrimônio exímio cultural.
quisera eu utilizar do ato de pensar
como forma de renascimento e descobrimento;
não como forma de morrer
como eu o faço todos os dias
alguns já me disseram:
pensar demais nos faz desistirmosquisera eu conseguir não desistir
e seguir em frente;
quisera eu que a felicidade para mim
não fosse um desafio
e sim um brinde
de algo que
eu tenho o direito;
quisera eu que o efeito de felicidade
não seja um estranhamento de que
"tem algo de errado acontecendo,
isso não pode ser";
quisera eu acreditar
quisera eu achar que não preciso
desistir
que nada me impede
e que não há nada de errado;
quisera eu achar que desistir
é um ato individual falho
de uma mente cansada
mas que nada que uma boa
barra de chocolate e um filme
não resolvam;
é, por ora
e por depois?
quisera eu
o depois nunca estar
no meu ato extremo de pensar.