tempos difíceis
carregados de monólogos
arranjados e desarranjados
coloco o meu vestido florido preferido
e caminho em forte calcares
a aberração insólita da natureza morta
perdidamente impalpável e lúgubre
é a junção da procrastinação com
a alma promíscua
epifanias
eu me lanço flamívola ao universo etéreo
eu me acabo em mistérios e me afundo
no íntimo do meu tálamo
sinto que é a anunciação do meu
prodrômico sistema desajeitado
fixo o meu olhar no espelho
e enxergo tempos difíceis
vejo um olhar embargado e esfalfado
e entendo o meu espírito profundo,
fluido em uma constelação de estrelas
passo a língua em meus lábios ressecados
e sinto a ptialina queimando o ácido
como um experimento Arrhenius
penteio o meu cabelo
termino de me arrumar para o evento
de encontro às janelas,
observo as harpas e o sonoro profético
do tênue gosto da liberdade em tempos cruéis
na obscura e mortal forma humana
carrego o tom intrínseco niilista
regurgito estramônio e sinto minha carne em resíduo putrescível como um agonizante instinto em uma irracionalidade primitiva
eu sinto ânsia!
enquanto a natureza exausta se despede de mim sob um forte odor
que queima o olfato
de sândalos e lírios que aconchegam
e entorpecem o doce aroma do desconhecido
calo a voz da mente e ouço:
“és poeira”
entendo como o último verso
de um poeta imaterializado e dissolvido
em um ideal que nunca aconteceu.