sexta-feira, 24 de abril de 2020

sentidos

sequência de sentidos
escritos e figurados
eu peço ao meu eu
que escreva na ponta dos dedos
a linha mais fina e assimétrica
do meu enigma
carrego no meu corpo
sinais de consciência sensível
no oásis do meu tempo seco
eu recarrego meus dedos com
tintas de Lótus
em serenas ondas de Dictyophora
.eu desperto sentidos
se tivessem me sentido.
busco no entrelaço das minhas pernas
com o lençol, o meu âmago 
e prospero calafrios
arrepios da alma
com lábios carnudos e umedecidos
meu coração palpita desenfreado
o incenso da alma desolada
misturado no exagero desonesto
do estímulo
compadeço e ressignifico.
me transformo alenta e me visto
de soídos lúbricos 
eroticamente vital
sórdida
eu me liberto por excelência
entre carne e ossos
eu sinto além da pele
e protesto em ruptura 
o universalismo trincado
o clímax suave como cantos líricos 
de manhãs reluzentes
o pequeno fio de sol da janela
expõe o mel na Alcova 
me contraio afim de não perceber o céu
tomo consciência da jaula em que me encontro
e perduro submersa ao meu néctar
eu vejo além dos sentidos,
eu enxergo o puro cristalino
do talismã do meu corpo
traduzido pelas minhas mãos gentis
solto o cabelo como forma de arma impura
minha boca fremente em sintonia sedenta
me estremeço até expelir a aura em deleito
o meu sentido traz o delíquio 
e na liberdade do íntimo eu clamo
para que a poesia me possua
em forma da arte
do meu bem querer.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

tempos difíceis

tempos difíceis 
carregados de monólogos 
arranjados e desarranjados
coloco o meu vestido florido preferido
e caminho em forte calcares
a aberração insólita da natureza morta
perdidamente impalpável e lúgubre 
é a junção da procrastinação com
a alma promíscua 
epifanias 
eu me lanço flamívola ao universo etéreo
eu me acabo em mistérios e me afundo
no íntimo do meu tálamo  
sinto que é a anunciação do meu
prodrômico sistema desajeitado
fixo o meu olhar no espelho 
e enxergo tempos difíceis 
vejo um olhar embargado e esfalfado 
e entendo o meu espírito profundo,
fluido em uma constelação de estrelas
passo a língua em meus lábios ressecados
e sinto a ptialina queimando o ácido
como um experimento Arrhenius
penteio o meu cabelo
termino de me arrumar para o evento 
de encontro às janelas,
observo as harpas e o sonoro profético 
do tênue gosto da liberdade em tempos cruéis
na obscura e mortal forma humana
carrego o tom intrínseco niilista
regurgito estramônio e sinto minha carne em resíduo putrescível como um agonizante instinto em uma irracionalidade primitiva
eu sinto ânsia!
enquanto a natureza exausta se despede de mim sob um forte odor 
que queima o olfato
de sândalos e lírios que aconchegam 
e entorpecem o doce aroma do desconhecido 
calo a voz da mente e ouço: 
“és poeira”
entendo como o último verso
de um poeta imaterializado e dissolvido
em um ideal que nunca aconteceu.