domingo, 24 de julho de 2016





[excertos de mensagens tiradas de alguém para outro alguém]
ii.


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faz tempo que não nos falamos, mas, eu queria deixar claro o motivo de eu ter ido embora. eu falhei comigo mesma e, de repente, me vi perdida de tudo e de todos, inclusive de mim.
eu registrei toda minha luta diária em páginas de um diário, pensar demais é doloroso e nos faz viver em uma eterna prisão em que a sua pena é a de: morte. eu te amei mais que tudo e gostaria de ter feito mais, mas, a situação me fez desistir, a minha mente me colocou em uma armadilha da qual eu não fui capaz de escapar. o meu sentimento é louco, intenso, tenso. é como se eu tivesse toda a minha vida por um triz nas pontas dos meus dedos pronta para escapar. eu tinha medo, medo de acreditar nas coisas, medo do bom, medo do que pra mim era improvável, medo de: aquilo não ser real.
pois bem. logo tratei de me curvar diante minha mente, pois sou apenas sua súdita que acata ordens e mais ordens. por trás do medo, eu conseguia ver uma felicidade, mas teria de resgatar bem lá no fundo... difícil.
o suor do meu medo de deixar tudo escapar pelo vão entre meus dedos era tão presente que parecia que qualquer gotícula que caísse no chão já se ouvia de longe indicando que tudo está perdido. se eu pudesse dizer algo do meu eu de hoje pro meu eu de antes, seria: "calma, meu bem, não tem nada de errado, não precisa viver sempre por um fio, desse jeito vai perder o amor da sua vida". mas quem disse que meu eu de antes ouviria? a teimosia é uma sabedoria da qual um ser pensante-intenso ainda não adquiriu. eu peço que(........)

quisera eu

quisera eu

eis uma citação de carlos drummond de andrade:
há um certo gosto em pensar sozinho
é ato individual, como nascer e morrer 
quisera eu ter gosto ao ato de pensar
ato este que me toma a consciência
ato este que me falha à lucidez;
quisera eu parar de pensar nas
mínimas;
mícroscópicas;
coisas que me tiram a concentração
me desgastam por inteira
desnutre meu cérebro de
pensamentos vazios
captados por uma onda magnética
intensa
da qual você não escapa
e se torna prisioneiro dela
como se fosse uma droga
a droga de efeito mais devastador
que um químico pôde ter inventado;

quisera eu ter o poder da química
pra inventar uma outra droga
que aliviasse o meu ato falho de pensar;
quisera eu pensar sozinha mas pensar
com consciência
com clareza
sem paranoias e inconstâncias;
quisera eu gostar do ato individual
e não fugir de mim mesma;
quisera eu conseguir fechar às portas
do meu quarto
sem ter medo de. m i m. m e s m a.

quisera eu, nestes momentos de fragilidade
nascer como uma fênix
e dizer: há um certo gosto em pensar sozinho
e, eu tenho este gosto;
quisera eu... logo eu, cheia de sonhos
vontades
teorias
filosofias
revoluções internas
não se ver capaz de colocar em prática;
e me ver desmoronando por inteira
como se fosse um atentado à um
patrimônio exímio cultural.

quisera eu utilizar do ato de pensar
como forma de renascimento e descobrimento;
não como forma de morrer
como eu o faço todos os dias
alguns já me disseram:
pensar demais nos faz desistirmos
quisera eu conseguir não desistir
e seguir em frente;
quisera eu que a felicidade para mim
não fosse um desafio
e sim um brinde
de algo que
eu tenho o direito;
quisera eu que o efeito de felicidade
não seja um estranhamento de que
"tem algo de errado acontecendo,
isso não pode ser";
quisera eu acreditar
quisera eu achar que não preciso
desistir
que nada me impede
e que não há nada de errado;
quisera eu achar que desistir
é um ato individual falho
de uma mente cansada
mas que nada que uma boa
barra de chocolate e um filme
não resolvam;
é, por ora
e por depois?
quisera eu
o depois nunca estar
no meu ato extremo de pensar.

sexta-feira, 22 de julho de 2016



[excertos de mensagens tiradas de alguém para outro alguém]
i.
                                                    

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bom dia, tudo bem? eu queria dizer que eu acho melhor nós não nos encontrarmos hoje, eu não sei, não acordei bem... sabe, não gostei da conversa com a sua amiga, são coisas que estão me incomodando com facilidade, quem sabe amanhã nós tomamos um café ali na avenida principal e depois encaramos um cinema, né? mas. hoje. não.
hoje não estou acreditando em você, hoje não gostaria de te ver, hoje estou me sentindo horrível e pra baixo, não é um dia normal e eu queria saber o por quê disso e das minhas noites mal dormidas das quais penso muito nestas suas conversas adjacentes.
me responde quando puder, sei que o seu trabalho te consome pelas manhãs, gostaria de saber a sua opinião, beijo.