sábado, 20 de fevereiro de 2016

escrever pra não enlouquecer

são seis horas da manhã
de um dia de semana
que eu nem sei qual é
pois eu me perco tanto
nas ideias
nos desejos
que me perco de mim
do tempo
da realidade

a pequena claridade da janela
já denuncia que amanheceu
e eu reviro
a minha cama
impaciente
e vejo
que tu não estás nela
eu queria que tu pudesses olhar
para o que eu estou olhando agora

o meu quarto está um clima
tão bom
que bom seria pouco
pra explicitar o que
eu realmente quero
pena que nele só falta
a tua presença
a escuridão toma conta
mas termina quando eu busco
a claridade desviando meus olhos
na janela
e vejo as cortinas um pouco transparentes
ensaiando breves movimentos
como folhas em coreografia com o
pequeno vento
que as assopram
porém não saem do lugar
vejo estas cortinas tampando a pouca
luz que tenta
invadir o meu quarto

enquanto isso lá fora
tem vidas
pessoas
carros
barulhos
por que eles se tornam tão mais
intensos
quando nós nos deparamos sendo
intensos?
ouço cada barulho lá fora
com genuinidade
desde a gota da chuva que ameaça vir
até a buzina na esquina das
três quadras daqui
tudo isso porque........
tu não estás.....
aqui
a intensidade se acentua da forma
que os cruéis detalhes se exaltam
quando temos as sensações mais
inibidas e oprimidas

sempre nos tornamos
mais veementes
quando nos sentimos
suprimidos
pelo universo

tu tens que sentir isso
que eu estou sentido
se eu pudesse registrar a fidelidade
de tudo isso
as fotos
e as minhas escritas
seriam inúteis
pela grandeza da imensidão do vazio
e da vontade surreal de te ter aqui.



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

a rosa

estas rosas que recebo
elas exalam o perfume
de uma opressão
delinquente
em um dia mascarado
de felizes homenagens

mas as rosas falam sim
falam por todas
elas que são humilhadas
abusadas
julgadas
por usar o que quer
por fazer o que quer
por ter a liberdade
que procuram
e querem ter

a sua rosa não vai calar
a sua rosa não vai ser
apenas
uma rosa
que vai dizer que está
tudo bem

em pétalas elas
se desfazem
em um meio lotado
discriminado
pelo meu salto
pela minha saia curta
pelo meu batom escuro
por apenas
pelo meu ser

os chocolates derretem
sob um mar salgado
de agressões
de berros
e massacres

meu eu em si é uma rosa
mas não dessas que você
me entrega de vez em quando
de seus buquês vazios
cheios de nada
que não calam
não compram
apenas faz fortalecer
meu jardim de lutas diárias