O nom ver-te me faz sofrer
Pois ver-te me faz sofrer...
Se eu escolhesse fazer-te cantigas
Mui fremosa, faria-te ouvir D. Dinis"sofrendo tam esquivo
mal, ca mais mi valria de nom seer nada."
De ti cuido longe, de longe nom sei quem sofresse
Mas se soubesses, mia mui fremosa...
Ah, se tu soubesses que de todas as formas do mundo
A mais gram e bela é mia forma de amar-te.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
fremosa
a garota que eu amo tem longos cabelos pretos
Meu disco do Led Zeppelin tocava intensamente e repetidamente naquela noite. Incríveis anos setenta de saias rodadas e psicodélicas, calças justas de boca larga e delineador de gatinho. As mulheres eram tão belas aos meus olhos que eu andava sempre de óculos escuros na rua para que eu pudesse observá-las como se fossem quadros: arte.
Porém, existia uma em especial. A de longos cabelos negros, uma espécie de Brigitte Bardot morena de sorriso estonteante e fragrância rara. Eu era definitivamente um cara de sorte porque eu definitivamente amava aquela garota. Sempre quando eu acendia seu cigarro ela me sorria com os olhos em um olhar afetuoso. Era a única mulher que conseguia ser meiga e feroz, tímida e selvagem... Arrancava minha blusa em apenas uma puxada, soltava todos os meus botões, rasgando-a inteira, me pressionava contra a parede me dando a sensação de impotência e descontrole da situação. Eu puxava com vigor aqueles cabelos, e ela mordia meus lábios com ternura e desejo. Realmente essas eram as melhores horas do meu dia. Parecia como se ela estivesse embriagada pelo momento - embora muitas das vezes estava embriagada por whiskey -. A tristeza era inevitável quando ela ia embora, eu ficava observando o cinzeiro deixado com bitucas manchadas de batom vermelho, uma lembrança inesquecível de vinil que tocava incansavelmente, sem arranhões, me trazia paz ao momento e eu ficava sentado na cama desarrumada sentindo o perfume amadeirado dela em meus lençóis brancos com algumas manchas de suor que restou das nossas loucuras. Era engraçado porque toda vez em que ela me visitava sempre dizia:
- Você deveria abrir mais estas janelas! Olha como a luz da lua reflete bem no seu quarto.
Sim, definitivamente ela estava certa, tinha visão para essas coisas. Eu que sempre fui um ignóbil e antirromantico. Porém, esqueci que aqueles que são contra o romantismo são aqueles mais contraditórios, como uma digressão narrativa de Almeida Garrett.
A sua beleza era rara e cativante e eu apenas aceitava tudo sem argumentar, um feitiço, talvez. O poder do romantismo havia me atingido de uma forma que eu não pudesse escapar pelas beiradas, apenas aceitar com convencimento. Sou contraditório.
Fiquei anos atiçado nessa situação e o fim aconteceu quando a estrada me chamou, trocamos algumas cartas e presentes... as lembranças. Depois de algum tempo, chegou um período em que eu não obtive mais respostas e um bilhete em que guardo até hoje veio após uns meses em que dizia: "Não posso mais responder suas cartas, tenho outro alguém. Temos que dar outro rumo em nossas vidas. O sol brilhará para você, te amo e você sabe que isso é infindável.". Pronto, bastou ler este recado que eu me condenei a tristeza, eu fiz o meu próprio julgamento. Aquela garota de longos cabelos negros estava com outra pessoa e não iria receber mais meus beijos, não deitaria mais nos meus lençóis e não íamos mais desarrumá-lo com noites de prazer que até hoje suspiro de saudades.
Mas, quer saber? Dane-se. Eu a amo do mesmo jeito. Foi a única garota de longos cabelos que eu amei. Aqui confesso algo totalmente secreto e, menina, se você puder ler isto em algum dia ou em algum momento de sua vida, onde queira estar, apenas saiba que sim, eu passei a abrir minhas janelas para que a luz da lua reflita em meu quarto e... quanto ao bilhete, sim, o sol brilhou para mim. Brilhou no dia em que te conheci.
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