terça-feira, 18 de novembro de 2014

vagas memórias vagas

Ah, as memórias. Cheguei no fulcro, o qual eu queria pautar. Elas se tornam tão vagas com o tempo... Eu me resto deitado em uma poltrona durante a manhã inteira observando a janela e o frescor que a luz do dia me traz, é como se eu estivesse relembrando de todas as manhãs loucas, corridas, prazeirosas que tive em minha vida. A vida passa tão depressa que as vezes nem tenho um tempo sequer para ficar observando essa beleza que é a natureza. A arte fala por si só e a natureza não fica atrás. É tão engraçado, estava no banheiro esses dias me olhando no espelho e me ocorreu o seguinte pensamento: nós temos as memórias guardadas com a gente, mas elas se tornam tão distante de nós a cada ano que vivemos... Lembro-me de minha adolescência que eu vivia tudo a cada mísero segundo e eu lembrava de tudo de uma forma tão clara e concreta, era algo do tipo: se eu quisesse retomar àquilo era simplesmente voltar atrás e pegar de volta que tudo vinha à tona e se materializava, tão fácil. Agora cá estou eu sentado nesta minha velha poltrona barulhenta cheirando a xixi de gato (esse preguiçoso não me escapa da próxima!) relembrando de tudo o que aconteceu naquela época de uma forma tão distante, não é mais daquela maneira coesa, hoje é abstrato. Não lembro de detalhes e nem de fatos que talvez, em dado momento da época, foram importantes para mim. Isso tudo é tão vago, eu gostaria de ser menos vago. Eu poderia ser preenchido por alguma coisa que eu não sei. As vezes sinto que não aproveitei minha vida como eu deveria. Pausa. Vou acender meu cigarro.


*


Beleza, voltemos, desculpe-me leitor, eu tenho meus vícios. Olha, talvez eu nem me lembre de quantos maços eu fumei agora no futuro. Pode ser fútil e supérfluo, porém é insinuante e excitante poder lembrar de algo que te dá prazer. É estranho, eu só queria poder lembrar de tudo com a mesma essência de antes. Hoje em dia eu só lembro do que eu vivo, o que eu ja vivi se foi com o vento, com o tempo... Eu queria reconstruí-los, mas o trabalho é minucioso. Sim, eu me recordo das vezes que sentei em frente desta janela, mas não lembro dos detalhes. Não lembro se estava frio ou calor, se eu estava triste ou feliz, se eu esperava por alguém ou por um telefonema, se eu estava olhando a vizinha do 43 passar (ela era bem gostosa, eu me lembro muito bem). Estranho. Essas recordações podem ser ambíguas e irreais também, uma vez que eu posso criar um destino para elas, como se fosse um conto de ficção, posso não lembrar do final, entretanto, posso vivenciar uma ideia, uma ilusão. Algumas coisas se tornam vagas e abstratas, será que eu por si só sou um ser abstrato? É de se pensar. Talvez eu nem vou lembrar disso amanhã ou depois, pareço só viver o momento... e o antes, ah, ele se torna tão distante... Um pássaro que voa cada vez mais longe de seu ninho, como eu queria capturá-lo e guardá-lo em um viveiro. Ah, como eu queria. Eis que é possível? Peço licença leitor, de repente nem me lembrarei de seu nome. Já antecipo as minhas sinceras desculpas, mas, o real motivo é que a vida corre e com ela anda-se de mãos dadas as memórias que de vagas se tornam tão inconstantes...