Há muito tempo atrás eu conheci outro lado da minha vida. Um lado mais colorido, florido, encantador... Era uma fase em que eu não queria sair nunca mais, foi o capítulo da minha vida em que eu conheci tantas coisas boas que muitas das vezes nem sabia que ia sequer conhecer um dia.
Caro leitor, aqui começa um desabafo intenso e acumulado, o que eu vou dizer agora vem de um viés caloroso e ao mesmo tempo tempestuoso. Cansativo, porém sente-se, não quero que mais alguém canse de mim nesta vida.
A vida não é sempre o que queremos e isso tem um lado bom, ela não te ensina a ser mimado, ela te coloca em seu devido lugar querendo dizer: "espera aí, mocinha, as coisas não são bem assim!" Realmente, eu provei disso da pior maneira possível e óbvio que continuo provando do ardor seco e frio que me contém e me consome.
Um pouco da minha vida talvez faça você, leitor, conhecer um pouco mais de mim. Meu nome é Sophia, nasci nos anos noventa, mais precisamente em 1993, naquela época em que tudo era novo, muita coisa acontecendo, tudo era colorido e ultra pop. Pois então, nasci. A partir daí creio que cheguei no mundo por algum motivo, não descobri ainda, porém acredito. Foram exatamente às 15h10min de um domingo, ou seja, pode ser que o tédio seja o meu segundo sobrenome, o que a época dava de interessante, o "boom" extraordinário do momento talvez não tenha servido de nada para mim.
Voltemos à atualidade. Hoje tenho 21 anos e ainda não me graduei, até o meu curso consideram como "tédio". Concordo em partes. Mas o que eu quero dizer com isso tudo? Quero introduzir a um lance atípico que aconteceu comigo. Conheci alguém. Me rendi e me entreguei. Foi assim, interessante, intenso (tudo com -in), químico, físico, matemático, artístico, filosófico, enfim. Foi de corpo e alma. As coisas acontecem quando você não tem nenhum por que de explicá-las... É esquisito. Parece-me que um dia tudo foi premeditado por alguém e você apenas seguiu o inexplicável. É algo de outro mundo, outra dimensão, outras vidas... Desde a barriga de sua mãe você não sabia que ia encontrar "x" ou "y" pessoa, mas encontraria e daria um resultado dessas incógnitas. O meu deu um resultado infortuno, incerto, incorrigível (de novo, tudo com -in). Nem os maiores gênios explicariam. Enfim, não citarei tudo detalhadamente, apenas aquilo que se começa em vida tem um fim, inclusive a própria vida. Desde então, minhas rotinas viraram um inferno, um estorvo, algo como: eu só vivo porque tenho de viver, só respiro porque meu sistema respiratório está intacto, mesmo com alguns cigarros de vez em quando. E assim eu corro todo dia, corro contra o que eu não quero ver, sentir, luto para isso. Sou uma militante eterna contra o que eu não quero. E aí, caro leitor, te coloco como sendo a pessoa mais importante da minha vida, aquela que eu mais dei de mim... Posso ter cometido erros? Mas é claro, é clichê, mas ninguém nunca e será perfeito. Te vejo com alguém além de mim, te vejo me colocando de lado mais uma vez, te vejo me ignorando como alguém que nunca conheceu. Te vejo disperso, te vejo e não te vejo, mas sinto o descaso.
E então, eu continuo sentada na cama do meu quarto, com minhas mãos no rosto, meus pés a poucos centímetros do chão, balançando procurando a calma e as luzes apagadas, muitas das vezes chorando pelas eternas e profundas consequências de amar puramente e verdadeiramente. Mas, quem se importa? Quantas das vezes saí do banho com o rosto inchado? O meu momento era aquele e único tempo, mesmo que mínimo, para colocar para fora e fazer da água do chuveiro, lágrimas.
Te vejo fazendo as coisas com outra pessoa, te vejo apaixonado, te vejo sorrindo, te vejo se declarando. Mas não pra mim, te vejo telefonando, confidenciando coisas que só eu sabia, te vejo íntimo e mais distante de mim. A minha alma percorre becos e quartos quadrados, sempre perdida, sempre cinzenta. A vida definitivamente não passa para mim, eu realmente não sei nem mais o que desabafar. As minhas distrações são tão vazias, tão rápidas... O ponteiro do relógio não muda, só ouço o "tic tac". Enquanto isso te vejo namorando, casando, tendo filhos, fazendo sucesso como profissional, viajando, amando, se descobrindo e... me esquecendo. Espera aí, quem é essa menina mesmo? Algum dia já tivemos algo?
Leitor, o medo do esquecimento é inevitável, a vida nos torna escravo dela e do paraíso do qual eu queria voltar, só que nunca mais terei de novo. Outros jardins virão, mas nunca mais àquele jardim. Algumas coisas marcam... Marcam como uma peça de teatro inesquecível, ou como uma opera das mais belas e emocionantes. Te vejo indo embora e me dando as costas como sempre fez para mim. Quantas vezes esperei uma ligação ou uma palavra sua? Antes de partir, qual foi o meu problema? Onde foi que eu errei? Por que não fui boa o suficiente para você? Talvez a consequência do domingo venha agora, e o tédio seja um adjetivo, uma característica literalmente, nata. Pode ser que eu seja muito monótoma e desagradável para você. Infelizmente, tentei o meu melhor. Eu tentei. Talvez, nós dois demos errados porque na verdade damos muito certo.
Leitor, pego em suas mãos neste momento e sinta o meu tremor e minhas mãos frias. Meu desabafo é verdadeiro de uma história de (des)amor verdadeira. Não deve ter nada de amor nisso, pelo menos foi o que eu senti com esse triste fim. Agora você está aí, encontrou alguém que me substituísse, pelo menos não deve ter nascido em um domingo, pelo menos mais legal e interessante deve ser, pelo menos mais interessante para sua família do que eu, pelo menos mora mais perto da sua casa do que eu, pelo menos cursa o mesmo que você.
Limpo minhas lágrimas que já inundou a minha folha inteira e me viro de cara para vida. O que eu farei agora? Meu desabafo é sem fim, eu gostaria de dá-lo um desfecho, algo feliz. Quem sabe isso não tenha uma continuação.
Sinto em te dizer, meu querido leitor, mas devo me despedir. Termino esse desabafo como uma medrosa covarde com medo do futuro, me olho no espelho e imploro para não vir mais alguma onda destruidora. Talvez, leitor, você não saiba. Mas eu te amei incondicionalmente, e um desabafo qualquer não explicaria tudo isso. Já dizia Álvares de Azevedo: "foi poeta, sonhou e amou em vida". Se por acaso procurarem por mim, diga que o meu sumiço é porque estou me protegendo. Agora, adeus, meu elo e sintonia com você continuará vivo, porém em outros cantos do universo.