Distante do mundo eu me vejo. Muita coisa se passa pela minha cabeça neste momento. Passamos muito tempo de nossas vidas procurando e vasculhando respostas e acabamos esquecendo das perguntas. O tempo passa.
O tempo passa e eu sinto que continuo empacada no mesmo lugar em que parei meses atrás, não ando para frente, só caminho em círculos. Círculos sem fim, talvez nem seja um círculo, seja um quadrado enorme, em que as arestas nunca se encontram. Porém as vezes acredito que seja um círculo. Eles não têm lado, não têm nada, são sem graças. E é o que eu sou no momento.
Quando chego em casa todas às noites depois de um dia extremamente cansativo, deito em minha cama e procuro refletir sobre as coisas, e insistentemente, me vem a seguinte pergunta na cabeça: "Por que o tempo não passa para mim? Dizem que ele cura tudo. Por que comigo é diferente?" Já estamos em março de 2014 e as coisas realmente não funcionam para mim, ou pelo menos não andam do jeito que eu achava que andariam. Cada vez eu estou pior. Essa é a real. Não sou um cigarro em que a cada tragada a fumaça queima toda aquela nicotina e todos aqueles componentes químicos até queimar tudo, até não sobrar nada. Eu queria ser assim. Eu queria ser um cigarro em que em tempos cada tragada refletisse em um pedaço queimado meu, um pedaço que se perde pelas ruas ou até mesmo a fumaça que se desfaz com o vento e... desaparece. Quero desaparecer. Melhor, quero que este sentimento interno desapareça, se esfarele, que seja um batom que saia com uma passada de guardanapo. Que seja fácil assim, que seja simples. Mas, temos que lembrar que o sofrimento não tem prazo de validade. Se tivesse, seria tão mais fácil. Imaginem se alguém chegasse agora falando: "-Olha, tu sofrerás somente por três meses! Acabando, tu conseguirás ser livre!". Não é assim. Não sabemos o fim. E a validade? Ela pode ser eterna. Esse é o meu maior medo. A minha maior prisão interna. Que a ferida cure e cicatrize, mas que a cicatriz continue com todas as marcas visíveis no meu corpo. Eu sou fraca e nesta luta eu perco facilmente e corriqueiramente. A dor é mais forte que a razão.
Me vejo parada no tempo, porém totalmente distante, em um universo paralelo. Estou vivendo, sistematicamente, mas vivo. Tenho minha rotina, que por sinal, não é interessante, faço minhas coisas, bebo nos finais de semana, viajo quando posso e também viajo no tempo com todas as minhas brisas, ainda sonho, experimento novas universos e aventuras. Mas chego em casa e deito na cama e tudo isso para e me lembro que ainda me encontro no ponto inicial do tabuleiro. Isso tudo é um jogo. E o meu peão ainda não saiu do ponto inicial. Quero avançar novas casas, o tempo está correndo. Porém não posso contra ele. Ele é mais rápido que eu e eu, mais fraca e menos sábia. Ele é tão mais rápido que nem alcançá-lo eu posso. Deve ser por isso que ele não passa para mim. Deve ser por isso que as coisas ainda acontecem para mim. É como um trem passando super rápido e eu lá longe tentando correr o máximo que eu posso para pegá-lo. Sem sucesso. E assim eu continuo. Me sento no banco esperando outro trem passar. Desta vez tento ser mais esperta para pegá-lo com antecedência. Mas quem disse que eu consigo? Dizem que a sabedoria é a nossa maior virtude.
O futuro, me instiga, em contrapartida, o passado me atrai. É uma corrente, quiçá uma gangorra em que de vez em quando quero alcançar o futuro e, outrora, voltar ao passado. Sem fim. Quero me libertar. Quero gritar. Quero voltar ao mundo sem pertencer à ninguém. Agora neste caminho sou só eu... sozinha, eu me amando somente e pensando só em mim. Quero restabelecer um contato com o mundo. Caso isso não aconteça, o universo será meu. E o paraíso vai ser meu destino, e assim, do paraíso vai ser as escadas em que eu tentarei subir, como diria Robert Plant, nós que compramos nossas próprias escadas, porém cabe a nós o destino de segui-las e subi-las. Posso estar subindo a errada. Posso ter subido a errada durante este tempo todo. Revertê-lo-ei, quem sabe. Quem sabe o tempo me dê alguma trégua. Ele não pode ser malvado assim por muito tempo. As minhas escadas já estão garantidas. Só resta saber o meu amanhã.