Agora que percebo que não sou nada, sou uma gota d'água perto de uma cachoeira límpida e transcedente que escorre suas águas em pedras eminentes e escorregadias, mas que escorregam, enquanto eu vivo sendo levada por estas águas e nunca por mim mesma. É aí que vejo meu insano e perplexo poder. Sinto que não posso fazer nada perante certas situações lúgubres, gostaria de fazer tudo pena não ter o poder de mudar as coisas. São nessas situações que vejo que não irei escapar, que vejo que meus tão amados não escaparão, e então, que farei eu? Ficarei sentada em meu sofá vendo meu programa de televisão favorito como uma frustrada inconsequente sem se importar com o hoje e nem com o amanhã? Que farei eu, Senhor? Ao ver estes escuros cenários acontecendo ao meu redor e eu aflita querendo descobrir o motivo para isso tudo, o motivo desta passagem e desta volta para o paraíso no qual eu não consigo decifrar, no qual eu fico noites e noites refletindo do porque sentiremos dor, do porque viraremos cacos de vidro que podem se quebrar a qualquer momento, à quaisquer piscar de olhos. Não entendo, se ela (a poderosa) chegará, não poderemos lutar contra, virariamos um rato na boca de uma cobra, das mais exigentes e velozes que existe. Então para que virar um pó? Se esse pó dormente sem poder vai nos deixar de qualquer maneira? Sabemos que nesse pó ainda tem um coração batendo, doloroso e com cuidado, mas batendo. Para que precisa ser assim? Vemos pessoas indo todos os dias, algumas indiferentes, outras que nos deixam cabulosos e outras... que fazem parte de nosso cotidiano, do nosso nascimento, da nossa vida. Que farei eu, Senhor? Continuarei minha vida, sabendo que a mesma sofrerá uma perda inadmissível mas que ao seguir da vida, será compreendido e aceitável. O que resta são as imagens, os pequenos detalhes dessa vida que se vai, dessa vida que no presente está sofrendo, mas que quando menos esperar, estará no paraíso, descançando como um gato repousa em vários cantos sem o incomodo de ninguém, pois só assim viverá sua volta à sua origem em paz. Aos que ficam no mundo dos vivos, peço que hajam com menos desprezo e mais serenidade. Largem do amargo da vida e procurem o doce pois ninguém sabe o dia de amanhã. Não hesitem ao falar o que pensam e o que sentem até porque pode ser tarde demais. Não seja tão duro com o próximo, não reclame de barriga cheia. Hoje estou eu aqui fazendo este texto em memória de alguém que pode sair de minha vida daqui umas semanas. O ser humano é mesmo frágil e é como se fosse um personagem em uma louca e aventura peça de teatro, onde aos poucos vai desaparecendo e aparecendo novos personagens. No final, nem eu mesma saberei em qual caminho seguir pois sei que a poderosa nos ronda dia e noite, só espera o momento certo e aí, será fatal. Que farei eu, Senhor? Continuarei a escrever meus textos e sendo o personagem deste grande teatro onde nunca se fecham as cortinas.