quarta-feira, 18 de setembro de 2019

não existe razão para este poema

[sinto que eu mesma me devoro
me devoro de loucuras
de inconstâncias
me devoro de expectativas
essas que não transformo em realidade]

*

tentei e desisti.
o poeta nunca transfere a arte para si mesmo
é sempre para alguém
para algo
a coisa vale mais que si mesmo
uma caneta e um papel descreve mais ele
do que si mesmo
já não sei mais sobre o que escrever
se tudo o que me vem na cabeça é você

e o que é você?
que na minha mente se transforma em um quadro
rabiscado, parecendo arte abstrata
não consigo te olhar, te observo apenas
mas com sombras
riscos e gravuras
como se fossem códigos
o que é você?
seria você um outro poeta que não consegue
mostrar a si mesmo?

te carrego em sonhos
e agora em papéis
meu lápis parece conhecer a folha
meu lápis parece conhecer o que quer escrever
ele tem algo a dizer
o grafite leve aos poucos se torna grosso
ponta fina apontada que do nada se transforma
em uma áspera ponta desgastada
como uma sinfonia mau organizada
te dedico esse rascunho
não te compreendo

o rascunho rabiscado sob observações e notas no roda pé
dando um contraste para que eu
lembre do recado
continuo sem saber
você se esconde
eu te mentalizo
mas você some
de vez em quando reaparece
desalinhando o meu ser
o que quer sugar de mim?
sou uma pobre poeta que desenrola
alguns poemas na madrugada

meu sentimento de agora é sobre o que escrever
passei tanto tempo com meus papéis na gaveta
tentando fazer as pazes com meu eu
tentando me realinhar
o sol brilha para mim as vezes
mesmo que seja na menor fresta da minha janela
e no meu cubículo quarto
me mantenho nele
me esbaldo nele
tento usar esse resto de sol
para iluminar a minha pele opaca
e brilha....
e reluz.....
mas assim como tudo,
desaparece.
assim como você.
só o que não desaparece são
as minhas loucuras
a minha mente amaldiçoada
por um feitiço que ainda não descobri qual é

o que é você?
por que está na minha mente agora?
e por que me fez tirar os papéis
amarelados e esquecidos da minha gaveta agora?
sabe....
até que não seria de todo o mal que você
aparecesse para mim
aqui
e
agora.