sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

selênio

uma madrugada mal dormida
entre tantas....
de suspiros profundos
regados de calor interno
do meu corpo
trazendo o quente
à superfície da minha epiderme
toco com a ponta dos dedos e sinto
a falta da luz que satura;
a melanina perdida das células
cansadas submarinas no sangue
desordenadas do meu corpo
que salpicam o meu coração 
trazendo inquietação 
dessa mistura alucinada
parece até uma receita de bolo
em que eu marino em 180 graus
quente como o fogo
prestes a cozinhar o que há dentro
aquele sentimento suspeito
toco o meu rosto e sinto
o ressecado da pele 
sendo regado pelo único molhado que resta 
a lágrima quente escorre
mas escorre como água fria
como areia molhada de praia
que seca pelo calor do sol
sinto que a noite me pertence
e a escuridão é a minha extensão 
desligo todas as luzes do quarto 
diminuo o contraste do celular
e fico quieta 
o esconderijo perfeito
para aqueles que querem 
correr de si mesmos
a caverna perfeita
para aqueles que sentem 
vergonha de si mesmos
a luz azul da televisão irradia uma luz fluorescente
que eu não quero que vejam
o calor tempera a vácuo 
a sensatez do descobrimento
quem dera se eu não descobrisse 
do escuro da noite 
trago à tona o que insisto em esconder
em meus olhos,
a minha pupila dilata o medo
com alguma poeirinha que persiste
em incomodar 
fecho os olhos e vejo borros pretos
como se eu estivesse perdida no universo
quem sabe
nós nunca saberemos o que viemos fazer em terra
talvez minha alma esteja presa no universo
e não seja daqui
talvez ela seja da escuridão
que do pouco de luz
já incomoda meu olhos sensíveis
fritando a melanina restante
queimando a íris que me faz enxergar o verde
oxidando o meu corpo em brasa
transformando-o em partículas de ar tóxico
incendiando fumaça em meu quarto
não posso abrir as janelas
e é nesse momento em que 
me sufoco
me sufoco na minha própria resistência
termino em chamas
em chamas permaneço
no escuro me acalmo
em silêncio.