terça-feira, 3 de abril de 2018

selva

o suor da loucura percorre meu corpo
como uma terra úmida do sereno da noite
molhada e pegajosa
o silêncio da imensidão calcula quase que a distância de um perímetro do meu corpo ao seu
eu sorrio entre beijos sorrio
nessa loucura eu imagino o quanto seria louco nós dois perdidos nesse mundo
mas destinados a nos encontrar em um momento
o labirinto pode ser confuso e derradeiro
mas o cheiro do seu suor quando se encosta no meu corpo
me habita uma pele selvagem
que te faz sufocar
que te encontra
que imediatamente derrama minhas orquídeas líquidas
líquidas do prazer desarmado
daquele doce estranho que me trouxe até aqui
que me fez sentir seu toque delicado das suas mãos geladas e macias
seu corpo macio
quente que estabiliza
aconchego do frio que faz um pouco lá fora
a alma transfere os nossos desejos mais loucos e intensos
nos fazendo perambular na terra em busca de tempos perdidos e aqueles que serão perdidos em um momento
eu só transcrevo
nesse suor derramado eu enlouqueço
o cheiro da sua pele permanece em mim por um milênio
parece até que impregna por todas as camadas da epiderme
minha pupila dilata e eu me estiraço para você
durante o dia durante a noite
somos um só
pelo momento do agora
o amanhã será o tempo perdido do hoje
impregnado no calor do outro enquanto coloca em mim a bomba relógio
que vai explodir
que vai sentir a alma coberta por flores em um mar calmo de ondas severas
e então eu grito
incansavelmente
eu te desenho nas costas
minhas unhas se tornam quase que parte do seu corpo
a liberdade do meu ser junto ao seu
anestesiados
seus suspiros arrepiam meu pescoço
fazendo minha pele entrar em erupção com o suor e o arrepio
o límpido grunha meu corpo como marcas de ácido
em um leve desmaio sinto do âmago escorrendo por mim
me abraço em seus braços e meu corpo treme junto ao seu
e então eu sorrio entre beijos sorrio
do desespero a calmaria
e o pudor esquecido debaixo da terra úmida
ainda me falta consciência
mas também ainda me falta o fôlego
que daquele momento eu sei que o tempo se tornou uma eternidade e não mais o agora
minhas pernas se tornam mais fracas deixando-o ir embora
mas o impacto permanece e um alívio me entorpece como um desmanche imediato
o universo é testemunha, ele sabe
e amanhã será um novo reencontro

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

selênio

uma madrugada mal dormida
entre tantas....
de suspiros profundos
regados de calor interno
do meu corpo
trazendo o quente
à superfície da minha epiderme
toco com a ponta dos dedos e sinto
a falta da luz que satura;
a melanina perdida das células
cansadas submarinas no sangue
desordenadas do meu corpo
que salpicam o meu coração 
trazendo inquietação 
dessa mistura alucinada
parece até uma receita de bolo
em que eu marino em 180 graus
quente como o fogo
prestes a cozinhar o que há dentro
aquele sentimento suspeito
toco o meu rosto e sinto
o ressecado da pele 
sendo regado pelo único molhado que resta 
a lágrima quente escorre
mas escorre como água fria
como areia molhada de praia
que seca pelo calor do sol
sinto que a noite me pertence
e a escuridão é a minha extensão 
desligo todas as luzes do quarto 
diminuo o contraste do celular
e fico quieta 
o esconderijo perfeito
para aqueles que querem 
correr de si mesmos
a caverna perfeita
para aqueles que sentem 
vergonha de si mesmos
a luz azul da televisão irradia uma luz fluorescente
que eu não quero que vejam
o calor tempera a vácuo 
a sensatez do descobrimento
quem dera se eu não descobrisse 
do escuro da noite 
trago à tona o que insisto em esconder
em meus olhos,
a minha pupila dilata o medo
com alguma poeirinha que persiste
em incomodar 
fecho os olhos e vejo borros pretos
como se eu estivesse perdida no universo
quem sabe
nós nunca saberemos o que viemos fazer em terra
talvez minha alma esteja presa no universo
e não seja daqui
talvez ela seja da escuridão
que do pouco de luz
já incomoda meu olhos sensíveis
fritando a melanina restante
queimando a íris que me faz enxergar o verde
oxidando o meu corpo em brasa
transformando-o em partículas de ar tóxico
incendiando fumaça em meu quarto
não posso abrir as janelas
e é nesse momento em que 
me sufoco
me sufoco na minha própria resistência
termino em chamas
em chamas permaneço
no escuro me acalmo
em silêncio.