o transe do tempo
é lento
como uma passagem
longínqua
dispersa
eu não sei quando vou acordar
mas sei que uma hora vou acordar
o transe do tempo
é escuro
melancólico
plutônico
causa uma energia bem vinda
que transmite o desejo
de continuar
as vezes parece sonho
as vezes pesadelo
mas eu não quero acordar
porque eu vivo
incansavelmente
a nona sinfonia de Beethoven
mais parece-me a centésima
aparenta durar e se transformar
mais nove vezes e mais nove vezes ao quadrado
parece círculos quando
você fuma aquele cigarro fino
entorpecendo o seu pulmão
de uma destreza que você acredita ter
mas no fundo são fumaças vazias
de medos tardios
de alguém grisalho em saber
que o transe não leva o vento torpe
enraizado na planta de seus pés
que não permite a sua caminhada
o tempo permanece.
distingue-se aquele que consegue
entender mensagens enigmáticas
em um espelho de luz neon
distingue-se aquele que em meio
a tontura da embriaguez
sabe enxergar entre as paredes
o sinal entregue especialmente
em baixo de seu nariz
não meros mapas astrais prontos que podem
dizer que tudo está um inferno
sendo que você faz o inferno
o transe te permite flutuar
na sensação daquilo que você
se permitiu sentir por uma fração de tempo
que passa por suas veias
como fontes energéticas
o céu é imenso
mas o que tem dentro de mim
pode ser maior ainda
eu não sei
ninguém sabe
talvez Foucault e a sua história da loucura sirva de inspiração para esse xeque mate
por enquanto eu não sei
o transe é tempo
longe pareço caminhar em um túnel escuro
eu pareço caminhar no meio dele
as bordas são frias e não me parecem seguras
tampouco o meio
mas o meio chega em um lugar
e as bordas?
elas têm as paredes que salvam
o meu destino...
...o transe é tempo
saltando de armadilhas
com botas de ferro
suando quando tento levantar o meu pé para dar um pequeno passo
e olha que eu disse pequeno
o grande ainda está por vir
no meu hipermetrope anseio
de enxergar a saída
do fim do túnel.