segunda-feira, 30 de agosto de 2010

back in black ii

Dia caloroso hoje. Achava que iria continuar até o fim do dia, engano meu. Por volta da manhã, aquele friozinho de doer os ossos voltou com tudo. Estava no colégio, pouco levei blusa até porque nem me preocupei. Minha avó me orientou, pediu que eu levasse. Concordei. Aquilo salvou minha manhã, se não, dava para prever uma gripe forte ou também, algo mais grave. Não, que horror, fora de cogitação.
Ao final das aulas, vim para casa, almocei e depois tive uma consulta com a minha médica. Ela precisava ver os exames de sangue que eu havia feito dias anteriores. Tudo normal, ótimo. Poderei viajar como planejado. Tudo iria bem naquele momento para mim, quando de repente fico de cara com uma notícia totalmente enfadonha, inconsequente, surreal - fora do comum - e totalmente, drástica. Naquele momento, a notícia me tomou por completo, fiquei alucinada ao ler tudo aquilo na minha frente. Não havia caído a ficha. O que eu queria mesmo era sair pra rua, beber até cair, ou andar... andar, sem ter lugar para ir, sem destino e nem direção. Ao ler, reeler, e refletir, pensava comigo mesma o porque tudo aquilo estava acontecendo naquele momento. Tampouco me preocupei ao meu redor, gostaria de ter chorado aquele momento, mas poucas lágrimas caíram calmamente e silenciosamente em torno de meu rosto. Precisava de apoio, de abraço. Quisá um beijo e um conforto, mas não, tinha que me controlar, só havia eu mesma de apoio naquele momento.
Ironia do destino! Queria tanto ajudar quem eu amo, pena que não tenho poder da cura. Óh céus, por que não me enviaste este poder divino? Faria tanto bem, melhoraria tanta coisa. Chega de alucinações, preciso é ficar no meu lugar e lúcida para estar disposta a ser o apoio de outro alguém, desse que precisa de mim. A notícia está me corroendo esse momento, estou digitando com meus dedos trêmulos e mais uma vez lágrimas nos olhos. Back in black, mais uma vez... mais outra e mais outra, é um círculo sem fim.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

4º motivo da rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.


Cecília Meireles

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

chega de saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim


Vinicius de Moraes

soneto de contrição

Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
Que o meu peito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.


Vinicius de Moraes